Economia

Operação da Polícia Federal afeta pelo menos 41,5 mil cotistas de Fiagros

A operação Greenwashing, deflagrada na semana passada pela Polícia Federal e que teve como alvo a venda de crédito carbono em áreas ilegais, afetou pelo menos 41,5 mil cotistas de Fiagros — um tipo de fundo que investe em cadeias produtivas do agronegócio —, da gestora AZ Quest, além de cotistas de fundos multimercados da Azimut.

Esses fundos, por sua vez, foram afetados porque investem no FIDC Caetê Fiagro, gerido pela Ceres Investimentos. Esse fundo investiu em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos pela Eco Securitizadora, que somam R$ 60 milhões, e têm como devedora a Stoppe, empresa investigada pela operação da PF.

A operação da PF, vale lembrar, envolveu a investigação de uma organização criminosa suspeita de vender cerca de R$ 180 milhões em crédito de carbono de áreas da União no Amazonas invadidas ilegalmente, que receberam a certificação da Verra, uma certificadora internacional.

Os CRAs na carteira do Caetê contam com a cessão fiduciária de créditos de carbono da Stoppe, alienação dos imóveis e avais do empresário Ricardo Villares Stoppe. Preso na operação da PF, Ricardo é dono da Stoppe e da Ituxi, grupo também investigado pela PF. A Stoppe e a Ituxi se diziam proprietárias das terras invadidas ilegalmente.

Entre os cotistas do Caetê, estão dois Fiagros geridos pela AZ Quest: o AZ Quest Sole Fiagro Imobiliário (AAZQ11) e o AZ Quest Luna Fiagro Imobiliário (AZQA11). O FIDC também foi distribuído a clientes da Azimut. Segundo levantamento elaborado pela Elos Ayta Consultoria, com base aos dados da plataforma ComDinheiro, sete fundos multimercados da Azi

Na época da distribuição do FIDC, foi passado aos investidores que o valor das terras cobria três vezes o montante do empréstimo. “Fica a questão: quem vai pagar essa conta? Se serão os cotistas que terão seu patrimônio zerado ou se existe responsabilidade do agente fiduciário, do administrador e do gestor do fundo”, questiona um dos cotistas, que 

Em razão da operação, a Vórtx, administradora do FIDC, fez uma baixa de 50% do patrimônio do Caetê, de R$ 61,6 milhões em abril.

O AZ Quest Sole Fiagro Imobiliário, que tem uma exposição de 9,88% às cotas seniores do FIDC, que cai 6,93% na bolsa nesta quinta-feira . A gestora estima um impacto negativo de 7,82% no valor patrimonial por cota e de R$ 0,015 na distribuição de dividendos. Já o AZ Quest Luna Fiagro Imobiliário, listado na Cetip, tem uma exposição de 9,88% ao FIDC

O processo judicial que deu base para a Operação Greenwashing está em segredo de Justiça. Segundo comunicado da AZ Quest, o que foi possível verificar foi a adulteração de registros das terras por agentes públicos, que foram afastados da função.

A AZ Quest informou que vai contratar escritório de advocacia para avaliar medidas a serem tomadas na esfera cível e criminal. Já a Vórtx divulgou que encaminhou, em 7 de junho, notificação à Stoppe e aos demais avalistas requerendo os esclarecimentos pertinentes, e que deve chamar uma assembleia para avaliar o vencimento antecipado do ativo.

Em nota, a Ceres afirmou que o processo decisório para aquisição dos CRAs foi conduzido de acordo com "os mais elevados padrões de diligência e que está estudando medidas judiciais cabíveis para recuperação do valor dos CRAs investidos."

Procurada, a Eco Securitizadora não retornou ao pedido de entrevista.

https://pipelinevalor.globo.com/mercado/noticia/operacao-da-policia-federal-afeta-pelo-menos-415-mil-cotistas-de-fiagros.ghtml