Fomento

Bancos investem em FIDCs para fornecer crédito sem onerar balanços

O investimento em FIDCs feitos pelas tesourarias dos grandes bancos, principalmente em operações relacionadas ao agronegócio, tem sido uma alternativa para as instituições injetarem recursos nas cadeias produtivas deste setor, sem comprometer seus balanços. Na estrutura dos FIDCs estão os créditos securitizados fornecidos pelas grandes trades do agronegócio aos produtores. As garantias envolvendo esta estrutura são consideradas de qualidade o que também incentiva as tesourarias dos bancos a investirem em FIDCs. Uma fonte que participa da estruturação destas operações informou, sob a condição de anonimato, que bancos como Citi, BTG, XP, BV e Itaú investem em FIDCs como forma de financiar alguns setores, principalmente o agronegócio.

A Capital Aberto procurou as instituições mencionadas, mas apenas o Itaú confirmou a utilização deste tipo de operação. “O banco estrutura FIDCs e tem participação como investidor nesses fundos, especialmente no ambiente de agro e de recebíveis de médias empresa e de Tech”, informou a instituição por meio de nota. Os demais bancos – Citi, BTG, BV e XP – preferiram não comentar ou não estavam disponíveis para entrevista.

Uma das grandes vantagens deste tipo de operação é que melhora a estrutura dos balanços dos bancos. “Nós temos visto muitas operações neste modelo, com os bancos encarteirando cotas sêniores dos FIDCs como forma de fornecer crédito, sem aumentar o passivo dos balanços. Como é investimento entra como ativo. Em contrapartida, as instituições financeiras perdem a gestão sobre os créditos, que passam a ser dos administradores. A titularidade passa a ser indireta, razão pela qual isso deve ser ponderado”, explica Murillo Allevato, sócio do Bichara Advogados. “O que pode estimular as instituições financeiras a investirem nos FIDCs é a possibilidade de facilitar o acesso ao crédito para empresas, em um momento de maior endividamento como um todo, que eleva o risco das instituições do mercado”, acrescenta o também sócio do escritório Vinícius Matarazzo.

Um dos indicadores de risco importante para os bancos, o Índice de Basileia, por exemplo, leva em conta o volume de recursos emprestados e o capital dos bancos para medir a solidez das instituições. “Além de buscar a ampliação do acesso a crédito para diversos segmentos, as instituições financeiras também possuem interesse em promover o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro”, acrescenta Matarazzo.

A escolha por investir apenas nas cotas sênior dos FIDCs, no limite de até 25%, não é por acaso. Diferentemente da cota subordinada, a sênior concede ao investidor a preferência de recebimento tantos em resgates como nas amortizações. Além disso, a rentabilidade desse tipo de cota é definida de maneira prefixada, se aproximando de um produto de renda fixa.

Os especialistas em mercado de capitais do Bichara Advogados também destacam outro ponto que explica o movimento dos bancos que investem em FIDCs. “Desde que cumpra as condições definidas pela CVM 175, os FIDCs se juntam a outros fundos que não têm come-cotas. O que é vantajoso porque melhora a rentabilidade do cotista, no caso o banco”, explica Allevato, acrescentando que as consultas feitas ao escritório Bichara Advogados sobre esta alternativa de crédito começaram no ano passado.

O head Comercial da Vórtx, Marco Tulio Lima, reforça que os FIDC’s sempre foram uma solução para o mercado de capitais no que diz respeito ao financiamento da cadeia produtiva, principalmente pela escassez de capital de giro e os altos spreads para alguns segmentos de mercado, em especial, o Middle Market. “Notadamente, o custo de capital e a inadimplência explicam boa parte dessa escassez. Sob uma outra ótica, os bancos viram uma eficiência em adquirir cotas seniores para fomentar ainda mais essas estruturas com objetivo de financiarem algumas cadeias produtivas de forma indireta”, explica o executivo da Vórtx, empresa que fornece soluções de infraestrutura para a indústria de fundos, incluindo FIDCs.

Lima acrescenta que as operações dos bancos que investem em FIDCs, realizadas no ambiente da Vórtx, é no modelo One Stop Shop. “Somos proativos na estruturação até a implementação junto aos originadores e investidores, na facilitação tecnológica na formação das cessões dos créditos e no set up de alguns parâmetros para suportar o gestor no monitoramento dos critérios de elegibilidade, entre outros serviços para estas operações”, explica Lima, sem citar nomes das instituições clientes. “Vemos um aumento deste tipo de operação, principalmente ligada à cadeia do agronegócio e a automotiva.”

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