Fomento

Maior cautela dos bancos na concessão de crédito às empresas amplia os spreads

Economistas têm demonstrado preocupação com os riscos de uma contração mais aguda do crédito e que seus reflexos sobre a atividade sejam maiores do que o antecipado, principalmente por causa de um eventual “efeito dominó” do caso Americanas. O tema foi abordado em reuniões de economistas com o Banco Central (BC) nesta semana.

Antes mesmo da crise na varejista, a expectativa já era de enfraquecimento do crédito neste ano. Depois de um avanço de 17% no saldo da modalidade livre para pessoa física em 2022, ante 2021, e de 10% para pessoa jurídica, a LCA Consultores, por exemplo, espera para 2023 altas em torno de 4% e 7%, pela ordem, ainda sem considerar impactos da Americanas. A varejista, que não vinha contabilizando corretamente o financiamento de certas compras, divulgou no início do ano “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões e acumula dívida total de mais de R$ 40 bilhões.

Se, por um lado, a desaceleração da demanda por crédito era exatamente o efeito esperado de uma política monetária contracionista e que busca desinflacionar a economia, por outro uma contaminação do caso Americanas poderia deteriorar o crédito à pessoa jurídica também pelo lado da oferta, o que não estava no radar.

O risco de um aumento de casos de inadimplência – que já está elevada entre pessoas físicas – e de recuperações judiciais tenderia a tornar as instituições financeiras mais cautelosas e seletivas na concessão de crédito à pessoa jurídica, ampliando o já elevado spread bancário (diferença entre as taxas cobradas nos empréstimos e as taxas que as instituições financeiras pagam na captação de recursos).

“Do lado do mercado de capitais, uma luz amarela foi acesa. A história da Americanas começou como algo pontual de governança, mas, depois, vimos alguns eventos adicionais. Os spreads de crédito estão subindo rápido, temos visto saída de fundos de crédito e o dinamismo do mercado está caindo”, diz o economista-chefe de uma grande gestora que pediu para não ser identificado.

“Se entrarmos em uma dinâmica em que o ‘funding’ [financiamento] vai secando, os spreads vão abrindo e os setores mais complicados vão ser os primeiros a pedir água. Precisamos ver quanto tempo isso dura, porque pode ser um movimento em cascata que leva a ter próximos trimestres bem complicados. Isso não estava no radar e, no momento, é a nossa maior preocupação, exceto as decisões vindas de Brasília”, acrescenta.

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