Fomento

Mais empresas usam FIDC para captar recursos fora do sistema financeiro tradicional

Em mercados considerados maduros, como EUA  e Alemanha, os bancos já não são os principais agentes de crédito para as empresas. É o mercado de capitais quem supre essa demanda. No Brasil, o Banco Central tem implementado diversas iniciativas para reduzir a concentração de crédito do setor bancário, o que muitas vezes traz limitações e custos elevados para o tomador. Nesse contexto, os FIDCs vêm ganhando cada vez mais destaque como fonte de captação de recursos para companhias de todos os portes e setores da economia.

Para se ter uma ideia do avanço, entre dezembro de 2020 e abril de 2024, o número de FIDCs teve alta de 106%, enquanto o patrimônio líquido dessa modalidade cresceu mais de 179%, de acordo com dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Atualmente, o segmento representa menos de 7% da indústria de fundos e deve chegar a 20% nos próximos cinco anos, reforçando o apetite dos investidores pelo produto.

“O volume financeiro vem crescendo consistentemente e o percentual relativo dos FIDCs na indústria de fundo mais que dobrou nos últimos quatro anos, um crescimento real importante. Outra visão relevante é o crescimento da diversidade de ativos lastros de crédito que migraram para o mundo dos FIDCs. O mercado tomador entendeu que o FIDC é acessível e consegue atender  sua necessidade de recursos”, diz Delano Macêdo, sócio-diretor da Solis Investimentos, gestora de recursos brasileira  especializada em FIDCs.

Ao combinar a experiência de profissionais que trabalham com FIDC desde a criação do instrumento no Brasil, em 2001, com uma forte capacidade analítica para monitoramento dos ativos sob gestão, a Solis se consolidou como uma das mais tradicionais do segmento. Hoje, a gestora atua tanto na gestão de fundos de FIDCs, para investidores de varejo e qualificados, como em originação e estruturação de FIDCs, atendendo a empresas que buscam uma opção diferente para se financiar, fora dos bancos.

Segundo Macêdo, em um momento de mercado de capitais mais restrito, as empresas que precisem de recursos para se capitalizar podem encontrar nos FIDCs uma fonte de recursos segura e estratégica.

“Os investidores estão mais propensos a se aproximar dos ativos de crédito, com rendimento mais robusto e risco  controlado, e consideramos o FIDC a melhor estrutura para dar segurança a esse movimento. Esta é uma oportunidade para o país se alinhar aos mercados modernos, onde o mercado de capitais é uma mola propulsora do crédito”, afirma Macedo.

Os FIDCs ganharam uma alavanca com a Resolução 175 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), em outubro do ano passado, quando esse produto se tornou acessível ao público em geral. Também contribuem para o crescimento do produto a dificuldade de se acessar o crédito bancário em condições razoáveis e o avanço das fintechs, um dos setores que mais utilizam os FIDCs para financiar suas operações.       

Ainda há outros fatores que ajudam a explicar o interesse pelos FIDCs, como a alta demanda por crédito no Brasil. Com a consolidação bancária dos últimos 25 anos, que diminuiu o número de players, a demanda de crédito já supera a oferta dos bancos.

Para Macêdo, ainda há uma mística de que as operações bancárias são mais baratas e ágeis, mas isso não é necessariamente verdade. “No mercado há vários tipos de investidores com perfis distintos. Quando conseguimos casar bem a disponibilidade e visão de risco do investidor com a necessidade do tomador, há vantagens financeiras claras para ambos os lados”, diz.

Na Solis, a tecnologia trabalha para encontrar os casamentos perfeitos. Com uma equipe de 85 pessoas, a gestora consegue atuar na estruturação, montagem e monitoramento dos fundos, usando ferramentas de machine learning para isso. A gestora também está desenvolvendo um trabalho, em parceria com a Stefanini, de governança de dados, com o objetivo de aprimorar o monitoramento de riscos das carteiras dos FIDCs com o uso de inteligência artificial.

“São muito poucos aqueles que estão fazendo isso no mercado. Com essas ferramentas, conseguiremos melhorar nossa predição de inadimplência das carteiras, utilizando a nossa enorme base de dados”, afirma Macedo.

Além de apostar em IA, a Solis expandiu a sua equipe dedicada ao crédito e monitoramento e atendimento de  clientes, acreditando na expansão da utilização dos FIDCs como fonte de funding para os mais diversos perfis de tomadores de recursos. “Em 2019, tínhamos R$ 3,5 bilhões sob gestão e hoje chegamos a R$ 18 bilhões. Crescemos cinco vezes em cinco anos”, comenta.

Macêdo destaca que há oportunidades de crédito para empresas de todos os setores. “Há uma miríade de possibilidades, que vai de financiamento pessoal, home equity (financiamento com garantia de imóveis), financiamento com garantia de veículos, consignado público e privado, antecipação de saque FGTS, financiamento estudantil, antecipação de recebíveis, aquisição de ativos fixos e operações de acquisition finance, para citar alguns exemplos. Praticamente tudo é ‘fidicável’, é preciso ter a estrutura adequada de regulamento do fundo e a correta estruturação operacional para mitigar os riscos que a gente consegue fazer funcionar”, diz.

Na Solis, as operações podem ser feitas em fundos warehouse (valores menores), em fundos de teses específicas ou fundos estruturados para tomadores ou originadores específicos (valores maiores). A ideia central é que a gestora entenda a necessidade e estruture a melhor solução para o tomador com o menor risco para o investidor. Além disso, ainda é papel da Solis acompanhar, monitorar, ajustar o que for necessário, e garantir que as regras de negócios do fundo sejam cumpridas.

“A tendência é que os FIDCs ganhem mais destaque nos próximos anos. A estimativa é que passe de um segmento de R$ 600 bilhões para R$ 2 trilhões nos próximos cinco anos. À medida que amplia esse volume, você traz para o jogo investidores com perfis diferentes e tomadores dos mais diferentes perfis”, diz Macedo.

Referência em FIDCs, a  Solis quer conquistar uma parte importante deste crescimento do mercado e se apoia no seu histórico de entregas para atrair investidores. “Nosso fundo mais antigo de FIDC tem mais de 12 anos e meio, são 151 meses, e nunca teve nenhum deles negativo de rentabilidade. Apenas em três meses, ao longo desse período, rendeu abaixo do CDI. Temos consistência na entrega de retorno ao investidor e baixíssima volatilidade; isso nos qualifica para o salto de crescimento pretendido”, afirma o executivo.

Vantagens dos FIDCs    

Há algumas diferenças relevantes dos FIDCs em relação ao crédito tomado em instituições bancárias.

A diversidade de perfis de investidores forma uma rede capaz de suportar a estruturação de operações de diversos perfis de risco, além da possibilidade de obter recursos por prazos mais longos. Nem sempre as instituições financeiras olham para esse prazo, a não ser em segmentos como o imobiliário e consignado público.

Além disso, “Quando um tomador ou originador começa a participar do mercado de capitais, ele começa a gerar track record nesse ambiente e se qualifica para novas operações futuras com seu histórico de bom pagador, mas precisa investir no seu nível de governança. Isso gera um relacionamento perene com o mercado de capitais, que tem agilidade e consegue investir em produtos customizados”, afirma Macêdo.

A Solis acredita no crescimento dos FIDCS e montou o primeiro fundo de FIDCs para investidor de varejo, o Solis Pioneiro, após a mudança normativa da instrução 175 da CVM. A ideia é dar acesso e democratizar os fundos para que os pequenos investidores se familiarizem com o investimento em crédito através de FIDCs. “Em apenas três meses o fundo já atingiu o patrimônio de R$ 80 milhões com mais de 1.200 investidores e devemos encerrar o ano com mais R$ 100 milhões”, diz o executivo.

Para saber mais, acesse o Portal dos FIDCs, que reúne notícias e informações básicas para empresas e investidores.

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