Fomento

Em processo de maturação, FIDC auto ainda tem um longo caminho a percorrer

Que o mercado de capitais está em constante evolução, não há dúvidas, a indústria de fundos então, nem se fala. Neste momento, o que tem chamado a atenção são os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) voltados para o financiamento de automóveis.

Essa nova modalidade tem uma explicação. Atualmente, o financiamento de automóveis representa a quinta maior carteira de crédito no setor financeiro, depois do crédito imobiliário, consignado público, crédito rural e cartões de crédito. Portanto, o potencial de crescimento do FIDC dentro dessa indústria fala por si só.

O mercado de financiamento de veículos vem apresentando um crescimento significativo nos últimos tempos. No acumulado deste ano até junho, o setor apresentou um crescimento de 23,8% na base anual, para 659 mil unidades financiadas, segundo a B3.

Gestores consultados e que possuem este tipo de FIDC estimam um mercado de mais ou menos R$ 400 bilhões, já que só na carteira de veículos dentro dos bancos o montante é de R$ 300 bilhões.

Para se ter uma ideia da importância dos FIDCs dentro da indústria de fundos, existem hoje aproximadamente mais de 1,5 mil FIDCs operando no Brasil, com um patrimônio líquido de R$ 276 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Na avaliação dos especialistas, esta modalidade de financiamento traz vantagens para montadoras, concessionárias, consumidores e investidores. Entre os benefícios está o aumento da competição no financiamento, que pode levar à redução das taxas de juros e melhores condições de pagamento para os consumidores.

“Quando uma pessoa compra um carro financiado, a dívida gerada (parcelas do financiamento) é cedida ao FIDC. Isso inclui os financiamentos de veículos novos e usados”, explica o fundador da Catálise, Bruno Lage, acrescentando que o fundo adquire esses direitos creditórios, transformando as parcelas futuras dos financiamentos em ativos.

Na prática, para viabilizar o financiamento, as montadoras de veículos, concessionárias ou instituições financeiras estruturaram fundos específicos para o financiamento de automóveis.

Em relação às vantagens deste tipo de modalidade, Lage ressalta que para as montadoras e as concessionárias, a venda dos direitos creditórios para o FIDC proporciona liquidez, permitindo o reinvestimento e melhoria do fluxo de caixa. Já os investidores de FIDCs recebem retornos baseados nos pagamentos dos financiamentos, que geralmente são atrelados a taxas de juros competitivas.

Este tipo de financiamento também traz vantagem para o consumidor. “A disponibilidade de financiamento pode ser ampliada e com condições mais favoráveis, já que os custos de captação via FIDC podem ser menores, comparados a outras fontes de crédito”, comenta o fundador da Catálise, que faz a estruturação e a gestão de FIDCs.

Pensando no crescimento dessa indústria, a Ouro Preto Investimentos, que possui mais de R$ 9 bilhões gestão, tem dois FIDCs montados para este segmento, sendo um de moto e outro de caminhão, que totalizam R$ 250 milhões. “São operações que estão indo muito bem. Logo iremos iniciar outras”, afirma o CEO da Ouro Preto Investimentos, João Peixoto Neto.  

De acordo com ele, não há qualquer dificuldade em obter funding para esse tipo de fundo, já que, no caso da Ouro Petro, os FIDCs são destinados para investidores profissionais ou qualificados. “Logo iremos colocar no mercado um fundo para o público amplo e aí teremos que fazer um trabalho de informação e educação sobre o produto e o lastro das operações”.

Os desafios para a indústria

Como todo novo mercado e ou indústria, os desafios para a implementação de um FIDC auto estão inerentes ao crescimento. A Vórtx, uma infratech do mercado de capitais, com mais de R$ 1 trilhão em ativos na plataforma, tem visto isso na prática.

Lilian Palacios, head do time de Estruturação de Fundos da Vórtx, diz que tem visto muitas conversas que envolvem a estruturação de um FIDC, mas que muitas estruturas ainda não saem do papel por conta da adaptação das empresas às formalizações, processos e tecnologia. “Sem falar, ainda, no relacionamento com o cliente final, que é relevante para as originadoras do crédito”, conta o team leader do time de Solutions da Vórtx, Victor Orosco.

Entre os desafios para a implantação de FIDC auto, segundo Orosco, estão que as instituições que originam o crédito decorrente do financiamento de automóvel possuem, usualmente, uma estrutura operacional complexa, o que traz um desafio de integração de suas operações. “A complexidade dessa operação se dá pelo fato de que o FIDC precisa estar perfeitamente alinhado com os processos e a tecnologia da instituição financeira”, conta Lilian.  

Além disso, a head de Estruturação de Fundos da Vórtx ressalta que é importante para a empresa financiadora que a sua imagem junto ao cliente não seja impactada com a cessão dos créditos ao FIDC. “E, considerando que o credor dos créditos e “cobrador” dos mesmos passa a ser o FIDC, essa questão também é avaliada com bastante cuidado”.

Na visão de Lilian, uma alternativa utilizada nesses casos, é que a cobrança dos créditos continue com as respectivas financiadoras que passam a atuar como um agente de cobrança do FIDC, sem precisar se adaptar às exigências regulatórias do FIDC.

Além da questão operacional, o CEO da Ouro Preto lembra da importância de tornar o FIDC mais conhecido por montadoras, concessionárias e por todos que atuam na cadeia automobilística. “O passo seguinte é tornar o fundo mais fornecido pelos investidores, o que deverá ocorrer a partir de outubro deste ano, quando deverão iniciar os primeiros FIDCs para varejo”.  

Peixoto diz ainda que, no passado, quando uma montadora queria criar uma operação para facilitar o financiamento de seus veículos, ela montava um banco, por isso a existência de bancos de montadoras. “Hoje, isso não faz mais sentido, qualquer montadora que queira criar uma estrutura para aumentar as vendas por meio do financiamento de veículos, irá montar um FIDC”.

https://capitalaberto.com.br/gestao/fidc-auto-um-mercado-de-r-400-bilhoes-ainda-em-desenvolvimento/