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Mesmo com recuo do BC, corte de juros mantém Fidcs atraentes

A redução do ritmo de cortes da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central, provocada pela ação do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e por diretores indicados pelo governo Bolsonaro, não muda as perspectivas positivas para os investimentos em crédito privado. De acordo com o CEO da Ouro Preto Investimentos, João Baptista Peixoto Neto, a desaceleração do corte dos juros em nada muda a tendência de crescimento do Fidcs (Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), que deve ser impulsionada pela entrada dos investidores de varejo, permitida pela Resolução 175 da CVM de outubro do ano passado.

“A perspectiva é que haja uma popularização deste tipo de investimento, que proporciona uma rentabilidade acima da média do mercado. Em até dois anos, o número de investidores pessoas físicas em Fidcs deverá superar os 2,5 milhões que atualmente aplicam em FIIs”, avalia.

Peixoto Neto observa que o movimento seria mais intenso se as taxas caíssem mais rapidamente, já que os fundos de direitos creditórios oferecem uma rentabilidade bem acima do CDI, o que provocaria a migração mais forte de recursos.

“A redução da taxa Selic torna mais atraente os investimentos em crédito privado que apresentam uma margem maior. Quando a Selic estava muito alta, por exemplo, 15%, o que acontecia? Os fundos de crédito privado não conseguiam oferecer ganho muito superior aos 15% porque a taxa de juros já era alta demais. Com a taxa de juros caindo, por exemplo, para 6% ou 7%, os fundos de crédito privado conseguem oferecer 200%, 300% do CDI”, ressalta.

A Ouro Preto tem planos de lançar 40 Fidcs nos próximos meses. Atualmente, ela tem sob gestão quase 130 fundos de todas as classes e um patrimônio líquido de R$ 10 bilhões, contando com mais de 7 mil investidores. Deste montante, cerca de R$ 6 bilhões estão alocados em 90 fundos.

Recomendação de Fidcs compor até 50% da carteira conservadora

Por conta da rentabilidade diferenciada e risco pulverizado, a consultoria de investimentos Hike Capital recomenda a seus clientes uma exposição considerável em Fidcs, chegando a 50% no caso de carteiras conservadoras. O CEO da consultoria, Jonas Carvalho explica que grande parte dos fundos tem como propósito financiar o capital de giro de companhias, e isso envolve o fornecimento de crédito em prazos reduzidos, sejam eles semanas ou meses.

“A taxa praticada no financiamento de capital de giro, quando anualizada, pode chegar a 200% ou até 300%, a depender do risco da operação (do devedor) e do volume de garantias envolvidas. Dessa forma, a receita nessas operações não é bem correlacionada ao CDI, mas irá depender de como o Fidc é capaz de girar o seu caixa sem realizar a recompra das próprias dívidas, assim como controlar a sua inadimplência”, ressalta.

Segundo Carvalho, para girar o caixa, o Fidc precisa receber o pagamento da dívida cedida no prazo acordado e emprestar novamente para manter a operação de seus devedores. Dessa forma, a queda na taxa de juros pode, em parte, reduzir a taxa praticada nas operações de crédito do fundo, mas aumenta o giro da operação (quantidade de duplicatas), reduz o seu passivo (cota sênior CDI+3%) e tende a melhorar a inadimplência desses ativos.

Após quase dobrarem em 2023, os Fidcs devem registrar novo salto de captação este ano com forte crescimento do número de investidores. No ano passado, as emissões cresceram 84,4%. Ao todo, foram R$ 74,4 bilhões em 2023, contra R$ 40,5 bi em 2022. Dados do último relatório da Anbima demonstram que em abril, os fundos de investimentos registraram captação líquida positiva de R$ 40,1 bilhões, sendo que um único Fidc teve a entrada de R$ 33,8 bilhões.

Segundo o blog do Nubank, “os Fidcs são categorizados por agências classificadoras de risco, o que possibilita ao investidor conhecer melhor os riscos envolvidos. No entanto, os Fidcs também envolvem riscos, que podem ser maiores do que em aplicações como Tesouro Direto e CDBs. O Fidc não tem proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Por fim, vale atentar-se ao risco de crédito. Ele pode acontecer por atrasos e inadimplência, por exemplo”.

https://monitormercantil.com.br/mesmo-com-recuo-do-bc-corte-de-juros-mantem-fidcs-atraentes/