Economia

Fraca demanda deve limitar volta do crédito

São Paulo - O mercado de crédito deverá ficar abaixo das expectativas no primeiro semestre de 2017. Com projeções já reduzidas, medidas de incentivo e redução da taxa básica de juros podem não suprir falta de confiança política e redução de renda nas famílias.

Segundo César Esperandio, economista da LCA Consultores, mesmo frente ao esforço do Banco Central (BC) em estimular crédito, os fracos movimentos vêm mais pelo "lado da demanda".

"Não há confiança porque tudo indica que 2017 ainda terá retração. Sem sinais firmes de retomada, empresário não contrata e consumo cai. Não houve otimismo em 2016 e não há otimismo agora", identifica Esperandio.

Nesse sentido, até mesmo com a aposta do BC na redução mais agressiva da Selic neste mês, os investimentos devem permanecer retraídos.

"Nenhum de nós acha que a queda de Selic levará ao otimismo. As empresas não tomam crédito pra fazer estoque, e não é essa redução que impulsionará", afirma Cássio Schmitt, diretor de produtos de crédito e recuperação para pessoa física do Santander.

Dados do BC apontam que mesmo com a primeira redução da Selic em outubro de 2016, (de 14,25% para 14%), as concessões para pessoas físicas e jurídicas mostraram quedas de 3,4% e 12,8% em 12 meses, respectivamente.

Segundo Nicola Tingas, economista da Associação das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), mais importante do que medidas microeconômicas seria criar "condições estruturais para alongar o perfil dos tomadores de crédito e operações do mercado financeiro".

"Temos uma economia indexada no curto prazo e não conseguimos dar crédito no longo prazo", diz.

Ele ressalta que "em uma recessão tão pesada", o fluxo de caixa das empresas não "consegue dar conta do operacional, e muito menos da dívida".

"O empresário está à espera de uma retomada e a economia aguarda uma ação dos investidores, em um ciclo dependente", conclui Tingas.

Prognósticos

Frente ao cenário de empréstimo bancário caro e demanda rasa, porém, uma das saídas para empresas e consumidores tende a ser as cooperativas de crédito, que demonstraram um crescimento superior aos bancos em 2015 e, de acordo com Léo Airton Trombka, representante nacional do ramo crédito da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), devem manter a ascensão significativa do setor tanto em 2016, como em 2017.

Ele afirma, no entanto, que "a falta de uma auditoria cooperativa e a tendência bancária do time econômico do Banco Central podem ser um desafio" para o segmento.

"Com a presidência anterior do BC [de Alexandre Tombini], o conhecimento do cooperativismo era garantia. Atualmente [com Ilan Goldfajn], contudo, isso se esvai um pouco", diz Trombka da OCB.

Para Esperandio, no entanto, apesar do saldo de crédito estar com crescimento de 3,2% para 2017, a situação "na prática" ainda deve ser mais difícil.

"Para as famílias, a queda do crédito já entrou em desaceleração e deve continuar em patamar negativo até maio de 2017, para então mostrar crescimento. Já para as empresas, a projeção é de taxas negativas até abril de 2018, com queda firme até meados deste ano", diz. Ele destaca, ainda, que "sem mudar a lógica de rigidez do mercado de trabalho a capacidade ociosa das empresas continuará a afundar o mercado de crédito".

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/fraca-demanda-deve-limitar-volta-do-credito-id597971.html