Economia

Apesar da crise, MPEs mantêm otimismo

A pandemia do novo coronavírus mudou o funcionamento de 31% das pequenas empresas do País, o que equivale a 5,3 milhões de pequenos negócios afetados. Outras 10,1 milhões, ou 58,9%, interromperam as atividades temporariamente, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Mas, apesar de todas as dificuldades enfrentadas em 2020, a maioria dos empresários (63%) continua otimista e pretende realizar investimentos no próximo ano.

Entre as empresas que continuaram funcionando, 41,9% passaram a realizar apenas entregas via atendimento on-line. Outros 41,2% passaram a trabalhar com horário reduzido, enquanto 21,6% adotaram o trabalho remoto. De toda maneira, a situação financeira da maioria das empresas (73,4%) já não estava boa antes mesmo da crise da Covid-19.

Agora, em um novo estudo, o Sebrae identificou que, em 2021, os pequenos empresários deverão investir em divulgação (13%), modernização de produtos e processos (13%), ampliação do atendimento ou capacidade produtiva (9%), além de ampliação do mix de produtos/serviços (9%), entre outros. Além disso, um a cada quatro empresários (27%) afirmam não ter condições de fazer investimentos no ano e 10% preferem guardar dinheiro para uma emergência.

Na avaliação da contadora proprietária da Fortress Contabilidade, Virginia Angélica Pereira Santana, as principais dificuldades que as micro e pequenas empresas vêm enfrentando no novo cenário são justamente em relação ao caixa. Conforme a especialista, em momentos de crise em que as receitas são fortemente impactadas, o ideal é um controle financeiro mais assertivo para que as contas não fiquem no vermelho.

“O ideal é que o empreendedor destine 20% dos ganhos para reserva de capital, assim, antes de pensar em linhas de financiamento ou contratação de empréstimos, ele consegue, ainda que de maneira mais lenta, voltar à normalidade sem grandes prejuízos”, explicou.

Ao longo de 2020, o DIÁRIO DO COMÉRCIO acompanhou e noticiou experiências, estratégias, soluções e pedidos de socorro de proprietário de pequenos negócios das mais diversas áreas de comércio e serviços de Belo Horizonte. A seguir, relatos que emocionam, encorajam e nos fazem acreditar que dias melhores virão.

A Quitanda Delivery surgiu em 2013 e nossa maior dificuldade naquela época foi a aceitação do público, porque a opção de e-commerce para sacolão ainda não era tão disseminada. Persistimos e investimos nos últimos anos, mas sempre com a loja física puxando as operações. Com a pandemia, o crescimento das vendas on-line foi muito grande, até porque já tínhamos um sistema estruturado e com um mix de produtos completo, incluindo biscoitos, pães, bolos, carnes e salgados. O desempenho foi tão expressivo que reforçamos o caixa e expandimos as operações, com a abertura de mais uma loja física. 

William Henrique Machado Santos,  proprietário da Quitanda Delivery (sacolão virtual)

No início da pandemia tivemos uma queda drástica no faturamento. Buscamos capacitação e mentorias de planejamento financeiro e marketing, de maneira a nos prepararmos para o momento da retomada, que ocorreu antes mesmo do que imaginávamos. Em maio já tivemos um desempenho surpreendente no on-line, que acabou por compensar a queda nas vendas para o atacado. Como já tínhamos um e-commerce estruturado, fortalecemos nossas operações e saímos na frente da concorrência. Uma grande lição que tiramos foi a importância da geração de caixa e da criação de uma estratégia própria. Caixa é rei e talvez seja mais importante que o lucro, pois é ele que faz a empresa sobreviver. Diante deste contexto, encerraremos o ano com desempenho positivo e estamos bastante otimistas para 2021.

Luiz Rocca – proprietário da Luiz Rocca (Calçados e acessórios masculinos)

Empreender no Brasil não é fácil e minha maior dificuldade está nas questões tributárias e nos impostos do País. Com a pandemia a situação se agravou. No caso da minha empresa, tive que reduzir os gastos com mão de obra e negociar com credores e fornecedores. Fomos afetados de maneira negativa, pois a instabilidade e a incerteza das pessoas em continuar empregados fez com que o movimento reduzisse em até 70% nos meses mais críticos. Durante este tempo, buscamos alternativas e serviços como forma de oferecer mais atrativos e diferenciais aos nossos clientes. Somente assim conseguimos chegar ao fim de 2020 com as portas abertas.

Geraldino Gomes Soares, sócio-proprietário do Castelo Centro Automotivo (oficina mecânica)

Para os nossos negócios, a pandemia foi positiva, mas vínhamos de uma crise de cinco anos na construção civil, quando tivemos redução do faturamento e consequentemente do estoque e do quadro de funcionários. Os meios que utilizamos para tentar driblar estes momentos de crise são financiamentos para cobrir os gastos e manter o giro do estoque. A empresa tem 20 anos de mercado e tem uma boa carteira de clientes, entre construtoras e incorporadoras, mas que foi afetada pela crise do setor. Por outro lado, a demanda por parte dos consumidores finais voltou a aquecer com a pandemia, porque com o isolamento social e o maior tempo em casa, as pessoas começaram a fazer reformas nos seus próprios imóveis.

Pedro Henrique Calixto de Oliveira, sócio da Pedribel Acabamentos (loja de acabamentos)

Ficamos exatos cinco meses fechados e, nas últimas semanas, tivemos novas restrições de comercialização de bebidas alcoólicas. Ou seja, os impactos financeiros continuam sobre o setor. O que fizemos foi renegociar com fornecedores, além de aderir às medidas de auxílio do governo. A MP 936 nos permitiu manter o quadro de funcionários. Mas, em termos de linhas de financiamento, que foram criadas em vistas de auxiliar o empreendedor neste momento, as dificuldades foram maiores e as mesmas não chegaram efetivamente a nós. De toda forma, aproveitamos o período para treinar os funcionários, rever processos, refazer pratos e elaborar novos. Estamos em um recomeço, pois tudo lembra quando abrimos as portas pela primeira vez, com novos processos, desafios e soluções. 

Fred Curi, proprietário e chefe do Soriano Gastrobar e Parrilla (restaurante)

Nossa estratégia para manter a saúde financeira da empresa sempre foi trabalhar todos os dias com controle minucioso de caixa. Fazemos um acompanhamento detalhado das receitas e despesas, bem como uma projeção de fluxo para os próximos meses. No período da pandemia, esses cuidados foram intensificados. Mas os impactos, no geral, foram positivos. Inicialmente tivemos queda nas vendas, porque o foco das operações estava nas lojas físicas, mas aproveitamos para adotar novas estratégias de vendas on-line, o que elevou o faturamento. 

André Fernandes, sócio-proprietário da Mundalua (moda feminina)

A Água Geraes tem 22 anos de mercado, é a maior empresa do ramo de Belo Horizonte e uma das maiores de Minas Gerais. O impacto da pandemia para o nosso negócio foi grande. Nosso público-alvo, que envolve restaurantes, bares e lanchonetes e escritórios, ficaram meses sem funcionar ou transferiram suas atividades para o home office. Com isso, em alguns meses, o faturamento chegou a cair 80% e tivemos que dispensar muitos funcionários.  Usamos recursos próprios para a empresa não fechar as portas, pois não conseguimos ajuda nem financiamento. Já estávamos presentes na Internet, usando as redes sociais para auxiliar as vendas, e já somos, por essência, uma empresa de delivery, por isso, estas estratégias que muitos adotaram não serviram para nós.

Rodolfo Chafi Chaib Junior,  proprietário Águas Geraes (distribuidora de água mineral)

Desde o início, adotamos todas as medidas de segurança orientadas pela OMS, com exigência do uso de máscaras, lavagem das mãos e álcool gel. No início, tivemos significativa redução da procura por nossos serviços, pois as pessoas passaram a priorizar as necessidades básicas. Depois, assim que a Prefeitura autorizou o funcionamento dos salões e clínicas de estética, intensificamos nossas promoções e aprimoramos a qualidade dos atendimentos e de produtos para manter nossa clientela. Entretanto, sofremos os reflexos da pandemia em todos os sentidos: nos nossos lares, trabalho, rotina, na diminuição da renda e até no psicológico. Mas precisamos seguir em frente e não desistir. Para isso, o cuidado do visual e da autoestima é fundamental.

Bruna Rocha, proprietária da Clínica Estética Bruna Rocha (salão e clínica de estética)

Por causa das medidas de isolamento e o fechamento de bares e restaurantes perdemos parte da nossa receita, que vinha da venda dos chopes. Com isso, passamos a apostar ainda mais nas garrafas e, inclusive, ampliamos nossa capacidade de envase. Além do delivery, que foi expandido e está sendo muito utilizado nesse momento, outra aposta está no nosso e-commerce. Vender cerveja em um mercado com tamanha abundância de produtos não é um desafio pequeno também. Performance comercial é fundamental, além de investirmos em capacitação.

Henrique Neves, proprietário da Cervejaria Laut (cervejaria)

Sou microempreendedor individual desde 2013. O artista mágico no Brasil tem muitas dificuldades, mas eu venho conseguindo superar minhas expectativas. Quando a pandemia chegou ao Brasil, em meados de março, eu tinha quase R$ 7 mil em contratos fechados e acabei perdendo em virtude do cancelamento de shows e eventos. Em abril meu faturamento foi a zero, assim como nos meses subsequentes. Precisei me reinventar e criei uma apresentação on-line chamada Live Mágica. Um formato que está sendo um sucesso. Agora, além de fazer shows para as pessoas que já me conheciam em Belo Horizonte e região, estou fazendo para todo o Brasil. Desde então, estou conseguindo superar meu faturamento até em relação ao período pré-pandemia.

Mágico Marcelo (entretenimento)

Tenho salão de beleza há 12 anos e manter o fluxo de caixa positivo tem sido bem complicado. Com a pandemia e o fechamento dos estabelecimentos, o faturamento foi a zero. Tive que recorrer aos financiamentos, mesmo com as dificuldades impostas pelos bancos. A divulgação pela internet eu mesma resolvi aprender, porque não conseguiria fazer mais um investimento com as receitas em baixa e precisava garantir alguma divulgação para quando o funcionamento voltasse. 

Rute Kellen Damião, proprietária Studio RK (salão de beleza)

Tenho um pequeno negócio no ramo de buffet. Tivemos que reduzir o quadro de funcionários para manter a saúde do fluxo de caixa. Fiz alguns investimentos no desenvolvimento do site e redes sociais para divulgação e em maquinários para otimizar a produção. Também treinei os funcionários. Mesmo parados, todos os dias prospectamos novos clientes, para quando for possível a retomada, sairmos na frente.

Andrea Vaz, proprietária do Petisco da Déia (buffet)

https://diariodocomercio.com.br/economia/apesar-da-crise-mpes-mantem-otimismo/