Economia

Na vanguarda mundial, Brasil criará enorme bolsa de crédito

O mercado de crédito está passando por uma revolução. Já podemos ver sinais disso com a proliferação de fundos dedicados a esta classe de ativo, nas suas mais variadas formas.

Porém, há um novo evento ainda mais poderoso acontecendo - a implementação da regulamentação que cria a duplicata escritural, ou seja, possibilita a emissão e o registro de duplicatas por meios eletrônicos (Resolução 4.815 do Banco Central e Circular 4.016).

Como comparativo, o mercado acionário iniciou sua revolução em 1990, com a Lei No. 8.021, que estabeleceu que as ações das companhias fossem mantidas em contas depósito, criando assim as ações escriturais. Isso acabou com as ações nominativas e a necessidade da guarda de papel e, desta forma, com a fraude. A tecnologia, por sua vez, acabou com as assimetrias de informações, fazendo com que um mercado que negociava R$ 100 milhões por dia atingisse R$ 25 bilhões por dia, em média, atualmente.

Hoje nossa capitalização bursátil está em torno de R$ 4 trilhões e, segundo estimativas da CERC (Central de Recebíveis), o volume de recebíveis no Brasil chega a R$ 7 trilhões! Assim, similar ao que aconteceu no mercado de ações, está surgindo um enorme mercado de crédito, com transparência, segurança e incrível potencial. Em pouco tempo, criaremos o equivalente a quase duas novas bolsas em ativos privados de crédito.

Ao transacionar ações ou derivativos na B3, um investidor nunca questiona a idoneidade da transação, a existência de lastro e a certeza da liquidação. Sua única dúvida é se realizou (ou não) um bom negócio. Antes da Agenda BC# (na verdade o início se deu na agenda da administração passada, chamada BC+), que entre outras frentes criou a duplicata escritural, a incerteza na negociação de recebíveis era total. A fraude assombrou este mercado por anos, mercado esse que ainda conta com significativa falta de transparência e práticas desleais, como cobrança de tarifas que não compõem a negociação da taxa praticada na operação.

Estamos vendo o nascimento de um enorme mercado, que acabará com as máculas do passado, e que será dominado pela tecnologia. É um enorme ganho ao Brasil e seus empreendedores, pois permitirá a expansão da oferta de crédito até aos menores grupos econômicos - as famosas MEIs.

Erra quem acha que antecipação de recebíveis é realizada apenas por empresas em dificuldades. Em qualquer lugar do mundo, o financiamento à cadeia de suprimentos (supply chain finance) é praticado majoritariamente por grupos que buscam otimizar seu capital de giro. Grandes grupos, que atuam em negócios de margens cada vez mais competitivas, maximizam os ganhos dilatando prazos de pagamento. Fornecedores buscam formas de se financiar antecipando parte de seus recebíveis.

De acordo com o Sebrae, há no Brasil hoje 19,2 milhões de pequenas empresas divididas da seguinte forma: 10 milhões de microempreendedores individuais (MEI, faturamento até R$ 81 mil/ano), 6,5 milhões de microempresas (ME, faturamento de até R$ 360 mil/ano), 800 mil empresas de pequeno porte (EPPs, faturamento até R$ 4,8 milhões/ ano) e 1,9 milhão de empresas caracterizadas como outras.

São muitos brasileiros que buscam formas de prosperar, financiar e crescer seus negócios, mas, infelizmente, é exatamente para este grande grupo que o crédito se torna mais escasso. Na maioria dos casos apela-se para o crédito pessoal, o mais caro, para financiar o capital de giro de sua pequena ou jovem empresa. É aí que um dos principais conceitos da contabilidade é ferido: deve-se separar a pessoa física da jurídica.

Temos aqui uma incrível oportunidade, através do reconhecimento do registro centralizado de direitos creditórios e da procura por produtos de investimentos alternativos, de ampliar a oferta de crédito no Brasil, principalmente aos mais necessitados.

Carlos Maggioli é CEO da Quasar Flash International.

https://www.sinfacsp.com.br/noticia/na-vanguarda-mundial-brasil-criara-enorme-bolsa-de-credito-valor-economico