Economia

Banco Central reduz taxa básica de juros de 2,25% para 2%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros, a Selic, de 2,25% ao ano para 2% na reunião desta quarta-feira.

No comunicado, o Copom afirma que não espera fazer uma elevação da taxa de juro tão cedo e fala, ainda, que espaço para cortes adicionais, "se houver" deve ser pequeno. O Comitê também destaca que novas reduções vão depender do estado das contas públicas.

"Eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva.".

O novo corte é o nono seguido na Selic, que atingiu a mínima histórica da série iniciada em 1996. A decisão acontece ainda em meio ao impacto econômico da pandemia de Covid-19 no país. A taxa de juros baixa é considerada “estimulativa”, ou seja, ajuda a induzir a atividade econômica.

O cenário econômico básico do Comitê é da “maior retração econômica global” desde a Grande Depressão, em 1929. No entanto, eles apontam “sinais promissores” de retomada nas principais economias do mundo, destacando que o ambiente permanece “desafiador” para países emergentes.

No caso específico do Brasil, o Copom vê que indicadores econômicos recentes “sugerem uma recuperação parcial”, mas ainda com setores “deprimidos”, principalmente os mais afetados pelas medidas de distanciamento social.

“Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais”

A Selic é a taxa em que bancos, administradoras de cartões e instituições financeiras se baseiam para calcular os juros que serão cobrados de seus clientes nas diferentes modalidades oferecidas. Com uma Selic mais baixa, outras taxas tendem a cair também, o que torna o crédito mais barato.

Com taxas de juros mais baixas, os financiamentos ficam mais baratos para empresas. Dessa forma, elas podem usar os recursos para fazer mais investimentos ou mesmo se manter durante o período de queda no faturamento causado pela pandemia.

De acordo com as expectativas do mercado reunidas no boletim Focus, divulgado no início da semana, a Selic deve permanecer em 2% até o fim do ano. A projeção é que o Copom aumente para 3% em 2021, 5% em 2022 e 6% em 2023.

Gastos com pandemia

O Comitê destacou que no cenário básico para a inflação, há dois fatores de risco. De um lado, as políticas fiscais de resposta à pandemia, com aumento dos gastos de forma prolongada, podem piorar a trajetória fiscal do país, assim como a não continuidade das reformas estruturais. O Comitê alerta que isso também pode elevar os juros.

“Adicionalmente, os diversos programas de estímulo creditício e de recomposição de renda, implementados no combate à pandemia, podem fazer com que a redução da demanda agregada seja menor do que a estimada, adicionando uma assimetria ao balanço de riscos”

Esses fatores poderiam elevar a inflação acima do projetado.

Por outro lado, o nível de ociosidade da economia pode levar a uma inflação menor do que a projetada. “Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional”.

A meta para a inflação tem margem de 1,5 pontos percentuais para cima ou para baixo e está em 4% para este ano, 3,75% para 2021 e 3,5% para 2022.

A taxa Selic é uma das ferramentas do Banco Central para atingir a meta de inflação. Quando a inflação está abaixo da meta, o BC corta os juros, estimulando o crédito, aumentando o consumo e a inflação. Quando a inflação parece caminhar para acima da meta, o BC eleva os juros, encarecendo o crédito, que por sua vez freia o consumo, reduzindo a inflação.

Quando o BC não atinge a meta de inflação, o presidente da autoridade monetária precisa divulgar uma carta pública endereçada ao ministro da Economia com as razões do descumprimento. Atualmente, o mercado projeta uma inflação de 1,63% para o final do ano, abaixo do piso da meta.

Corte residual tem efeito

Economistas consultados pelo GLOBO avaliam que ainda haverá efeito de estímulo à economia este ano, mesmo com um corte residual de 0,25 ponto percentual.

- A economia ainda está refletindo os efeitos de cortes anteriores, considerando que o efeito da queda de juros demora de 6 a 9 meses para chegar à atividade econômica.

E, pela primeira vez com estabilidade da economia, teremos juros negativos no Brasil, algo que desconhecemos. E esse cenário, deve prevalecer em 2021, já que a exectativa de inflação é de 3%  - diz o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani.

Para ele, haverá um efeito poderoso de estímulo à economia, principalmente para setores como mercado imobiliário, construção civil, bens duráveis e de capitais, que reagem intensamente ao afrouxamento monetário.

O coordenador dos cursos de pós-graduação da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), instituição ligada à FEA-USP, Estevão Garcia, avalia que mais uma queda de juros estimula o consumo e o investimento, faz os bancos baixarem juros e para o governo alivia o pagamento dos juros dos títulos da dívida num momento em que haverá crescimento dessa dívida.

—Baixar juros é uma estratégia que tem efeito - diz.

Para Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, a queda da Selic para 2% ajuda a recuperar a economia, mas é menos eficaz neste momento.

Para ele, há outros fatores importante que ajudam na retomada do crescimento. Entre eles a continuidade da agenda de reformas, a melhora da situação fiscal e a recuperação da economia mundial.

Impacto no dólar

Os analistas avaliam que a decisão  do Copom não vai pressionar o câmbio.

— A queda da Selic para 2% já estava sendo precificada desde a última reunião do Banco Central. Assim, não há motivos para projetar uma cotação mais pressionada do dólar contra o real — indica Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Vitor Vidal, economista da XP, também avalia que o corte em si não tende a pressionar o câmbio. Ele pondera, entretanto, que o momento demanda uma paralisação, por ora, das reduções nos juros:

— Os juros já estão em patamar bem baixo. Atualmente, o Brasil tem um cenário de alto desemprego, o que não gera demanda, dificultando um avanço da inflação. Assim, o momento pede que os juros sejam mantidos para que seja possível avaliar qual o real desempenho da economia.

Vidal acrescenta que o auxílio emergencial, cujo pagamento pode ser estendido por até dezembro, embora acarrete em aumento da dívida pública, pode ter como uma de suas consequência uma retomada do consumo, fazendo a economia reagir, em partes:

— O alongamento do auxílio pode estimular, dependendo de cada realidade, as famílias que estão reduzindo gastos a fazerem novas compras. O principal problema potencial para a economia do país é o andamento de medidas que visem romper o teto de gastos ou tornar um benefício emergencial em permanente.

Arnaldo Lima, diretor de estratégias públicas da MAG Seguros, avalia que a Selic tende a permanecer no patamar de 2% por conta dos auxílios do governo e incertezas sobre o teto de gastos:

— A Selic tende a ficar em 2,0% diante da continuidade das medidas de estímulo e composição de renda adoradas pelo governo, além do aumento das incertezas sobre a trajetória fiscal no Brasil. Possíveis discussões sobre a revisão do teto de gastos podem elevar incertezas e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado. 

https://www.sinfacsp.com.br/noticia/banco-central-reduz-taxa-basica-de-juros-de-225-para-2-o-globo