Economia

O que esperar dos fundos de crédito privado em 2020?

Depois de um 2019 turbulento, com muitos fundos de crédito privado perdendo dinheiro no segundo semestre, 2020 começa com boas perspectivas. A onda de remarcação de preços e rentabilidade dos papéis de crédito para se adequarem ao novo patamar de juros parece estar no fim e quem entrar agora deve ser menos impactado.

Além disso, as empresas brasileiras começam o ano financeiramente mais saudáveis – reflexo de anos de ajustes durante a crise – e com expectativa de venderem mais – afinal, a economia parece estar caminhando. Isso é importante porque o principal risco dos fundos de crédito privado é justamente o risco de calote das empresas emissoras.

Um fundo de crédito privado basicamente compra dívida de empresas, que podem ser de qualquer setor. Há alguns instrumentos financeiros para emitir essa dívida e vender no mercado, como o CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), debêntures, FIDCs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), debêntures incentivadas de infraestrutura (que são isentas de Imposto de Renda para pessoa física) e Letras Financeiras (LFs).

É vista como uma alternativa de investimento de renda fixa potencialmente mais rentável do que fundos DI e CDBs (Certificado de Depósito Bancário), mais comuns na carteira do brasileiro. Com a taxa básica de juros (Selic) a 4,5% ao ano, ficou mais difícil ganhar dinheiro sem se arriscar mais. Na opinião de especialistas, a boa notícia é que quem está entrando agora ou entrou no fim da confusão dos preços desses ativos deve se beneficiar de rentabilidades maiores daqui em diante.

“Dentro dos níveis atuais do 'spread' de crédito (retorno dos papéis) faz sentido para o investidor ter esse ativo na carteira em 2020, desde que esteja dentro do perfil de risco dele, mais agressivo ou conservador”, diz Marcelo Nantes de Souza, superintendente de renda variável da gestora do Bradesco (BRAM).

É importante que o investidor saiba que há fundos com liquidez muito diferentes, o que, na prática, acaba ditando se o fundo terá uma concentração maior ou menor de ativos mais arriscados. Um fundo com alta liquidez, que transfere o dinheiro ao investidor em até 15 dias do pedido do resgate acaba tendo uma parte importante do patrimônio aplicado em títulos públicos mamão-com-açúcar, do tipo Tesouro Selic, que acompanham o rendimento do CDI.

Já, os com baixa liquidez, que podem demorar mais de 15 dias, em alguns casos até um ano (ou mais) para depositar o dinheiro na conta do cotista depois que ele pedir, têm mais liberdade para comprar títulos privados que demoram para vencer. Afinal, tem mais tempo para vender ativos e, com isso, pagar os resgates, se for necessário.

Volatilidade

O que garante, porém, que em 2020 os investidores não sintam de novo um novo tsunami de remarcação de preços nos papéis? Em teoria, pode acontecer sim, mas os gestores defendem que o mercado está alcançando o equilíbrio.

“Vimos que alguns ativos tiveram o preço remarcado até demais, mas já voltaram ao patamar razoável. Acreditamos que temos agora um mercado com preços mais corretos”, explica Ricardo Couto, diretor de Investimentos do Banco Inter.

Em sua opinião, em 2020 já tem espaço para alocações interessantes, mas menos barganhas que se encontrou no movimento de ajuste de preços, do segundo semestre de 2019.

“Achamos que esse movimento (de remarcação de preços) não deve acontecer em 2020. A quantidade de oferta pública planejada para vir deve trazer uma remuneração interessante e gerar menos volatilidade”, diz Couto. Em sua opinião, a fase mais aguda da turbulência já passou e a maior parte dos ativos já chegaram a um preço de equilíbrio.

Crescimento do segmento

Muito se fala dos IPOs (oferta de ações) na bolsa, mas a maioria das empresas usam outra fonte de financiamento, como os empréstimos bancários e emissões de títulos de dívida privada, que serão justamente vendidas no mercado para essas gestoras de crédito e outros investidores. Para 2020, a expectativa não poderia ser melhor para quem quer emitir, o que acaba ampliando as opções para quem quer se arriscar por essa seara.

“O ciclo econômico ficou bom para os emissores novamente. Chegamos a uma situação em o mercado de capitais está voltando forte. Tem mais empresas acessando o mercado, mais projetos precisando de financiando e mais gente disposta a financiar. O acesso ao mercado de capitais ficou mais democrático. É um ciclo econômico virtuoso”, diz Fausto Silva Filho, gestor de crédito da XP Asset Management. Para 2020, a expectativa da casa é de continuidade de juros baixos, apesar da aceleração da inflação recente.

Na opinião de especialistas, é possível que o mercado se desenvolva ainda mais em 2020, a ponto de novos tipos de produtos surgirem do lado da oferta. Do lado da demanda, o dinheiro vindo de investidores que estarão dispostos a correr mais risco para tentar ganhar um pouco a mais, vai alimentar as novas oportunidades de financiamento.

“A gente está bem animado para este ano. Achamos que, com essa consolidação do cenário de juros baixos, vão surgir diversas oportunidades, operações se reinventando e inovando com novas classes de ativos. Nossa função é selecionar bem e precificar adequadamente esses ativos.”, comenta o gestor da Angá Asset, Frederico de Souza Lima.

A Capitânia, outra gestora especializada na área, prevê que deve surgir mais fundos que investem em debêntures de empresas de capital fechado, um mercado enorme, mas ainda pouco explorado pela indústria de fundos, já que são mais difíceis de calcular o risco.

“Esse mundinho de S.A. de capital fechado é gigantesco, mas o estoque está nas carteiras dos bancos. Estamos nos planejando para lançar algo com isso”, diz Arturo Profili é sócio-fundador da Capitânia ao Valor Investe.

Capitânia, Angá, XP, Banco Inter e BRAM foram algumas gestoras que conseguiram gerenciar os fundos de crédito privado mais rentáveis de 2019.

https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/renda-fixa/noticia/2020/01/13/o-que-esperar-dos-fundos-de-credito-privado-em-2020.ghtml