Economia

Estudo do Banco Central explica piora na balança comercial do país

O Banco Central divulgou nesta segunda (6) um estudo sobre a atividade econômica brasileira. Os analistas da instituição verificaram o comportamento da balança comercial brasileira em 2019, a evolução do mercado de trabalho formal e informal, a concorrência econômica e o custo do crédito.

Destaca-se, na análise do BC, o impacto do trabalho informal na atividade econômica e por que a balança comercial registou déficit no saldo total em 2019.

Os motivos da piora nas exportações
A balança comercial brasileira fechou 2019 no “verde”, mas com o pior desempenho registrado nos últimos 4 anos.

Apesar de ter registrado um superávit de US$ 46,674 bilhões, o número foi o pior desde 2015, quando ficou em US$ 19,5 bilhões. Além disso, em 2019 o balanço registrou uma queda de 20,5% sobre 2018.

Os principais responsáveis pelo número foram as tensões entre Estados Unidos e China e a crise na Argentina, além do menor crescimento doméstico do que o inicialmente projetado no país.

O estudo do BC identificou alguns pontos que fizeram com que o saldo da balança comercial apresentasse piora em 2019. Os analistas do banco queriam saber por que isso ocorreu.

Há um motivo principal: a queda das transações com a China e a Argentina. Veja o que diz a análise do BC: “Identificando os principais destinos e produtos responsáveis pelo movimento que contribuiu para o aprofundamento do deficit em transações correntes, os resultados sugerem que a maior parte da redução do saldo da balança comercial e nas transações correntes foi resultado de choques pontuais na China e na Argentina.”

O impacto dessa redução impressiona: “Caso os episódios identificados não tivessem ocorrido, a queda das exportações no acumulado dos dez primeiros meses de 2019, em relação ao mesmo período de 2018, teria sido de US$0,3 bilhão, ante US$10,6 bilhões observados.”

Repare no gráfico do BC como a redução do volume de transações com a China e com a Argentina impactou no resultado final do saldo da balança, comparando com os números de 2018 e 2019.




Recuperação econômica e trabalho informal

Em relação ao trabalho informal, o BC concluiu o seguinte: ele aumentou muito, principalmente a partir de 2016. O estudo elucida de maneira clara e precisa: “Diferentemente do observado no ciclo de expansão que precedeu a recessão, o processo de recuperação nos últimos anos tem se apoiado primordialmente no setor informal. O movimento pode estar associado não apenas ao gradualismo que caracteriza a retomada da atividade econômica, mas também a fatores tecnológicos que ampliaram as possibilidades de se ofertar trabalho autonomamente.”

O gráfico abaixo representa bem esse movimento, mostrando a relação do PIB com o crescimento da ocupação informal:





O impacto de um período de incertezas

A economia do país está se recuperando, ainda que de maneira tímida e gradual. De acordo com a análise do BC, o componente do clima geral de incertezas é vital para se entender esse processo.

A explicação do BC: “Utilizando indicadores de incerteza de política econômica desenvolvidos por Baker et al. (2016), investiga-se o papel da incerteza no comportamento dos componentes cíclicos do Produto Interno Bruto (PIB), da formação bruta de capital fixo (FBCF), do consumo privado e do desemprego.”

A conclusão dessa  premissa que resulta numa recuperação mais lenta da economia: “A avaliação empírica mostra que a incerteza e a atividade econômica são significativamente relacionadas. Em particular, a incerteza tem efeitos adversos significativos sobre o consumo e a FBFC. Além disso, a incerteza desempenha papel relevante em uma recuperação cíclica da economia: períodos com maior incerteza podem levar a uma recuperação mais lenta. Os resultados obtidos também evidenciam que a incerteza global tem efeitos relevantes e persistentes sobre os ciclos econômicos.”

A concorrência bancária e o custo do crédito

O BC estudou ainda os efeitos da concorrência bancária em mercados locais, com foco no seu impacto no custo e volume do crédito.

O que foi levado em consideração para entender essa relação:  “São explorados episódios de fusões e aquisições (F&As) de bancos com ampla atuação geográfica que alteram a estrutura de mercados bancários locais no Brasil. Por meio de metodologia de diferenças-em-diferenças, compara-se a variação do custo e volume do crédito para empresas nas localidades afetadas pelos eventos de F&A – isto é, localidades onde houve redução do número de bancos – com a variação observada em localidades que não foram afetadas pelos eventos de F&As.”

Veja os principais resultados, segundo o estudo do BC:

- “Competição importa: a diminuição da competição bancária no nível do município reduz a oferta de crédito e eleva os spreads cobrados localmente.

- Esse efeito anticoncorrencial só é estatisticamente relevante em municípios onde o grau de competição era inicialmente baixo.

- Quando já há mais competição no mercado local ou quando não há alterações na competição, os atos de concentração produzem ganhos de escala e eficiência produtiva que podem compensar seus potenciais efeitos anticoncorrenciais.

- Tecnologias que eliminem a dimensão geográfica podem contribuir significativamente para a ampliação do crédito e redução do seu custo, na medida em que permitem maior concorrência sem a necessidade de presença física em cada localidade.”

Atenção para a conclusão dessa análise: “Esse diagnóstico tem norteado a Agenda BC para reduzir o custo do crédito de maneira sustentável.”

O ritmo de recuperação dos investimentos

Veja agora a evolução recente da formação bruta de capital fixo. Após dez trimestres desde o final da mais recente recessão da economia brasileira, o ritmo de recuperação dos investimentos continua mais gradual do que o observado em outros ciclos de recuperação.

“Após atingir seu máximo no 2º trimestre de 2013, a formação bruta de capital fixo (FBCF) recuou 32% até o último trimestre de 2016 e, desde então, cresceu apenas 8,6% até o segundo trimestre de 2019. Este estudo analisa o ciclo econômico mais recente sob a ótica dos componentes da FBCF, evidenciando comportamentos distintos na contração e no gradual processo de recuperação”, diz o estudo.

Segundo o BC, houve:

- Contração (2013 II a 2016 IV) – quedas generalizadas na construção e nos subsegmentos da demanda aparente de bens de capital

- Recuperação (2017 I a 2019 II) – crescimento da absorção de bens de capital, com destaque para caminhões e ônibus e outros equipamentos de transporte

“Apesar da retomada, nível atual da absorção de bens de capital ainda corresponde a menos de 70% do nível observado seis anos antes”, analisa o banco:



Os núcleos de inflação

O estudo utiliza também “um modelo econométrico com variáveis climáticas como instrumentos para construir medida contrafactual de inflação subjacente sob a hipótese de que todos os preços, inclusive os mais voláteis, tivessem se comportado da mesma forma.”

O BC explica: “Entre o início de 2015 e meados de 2016, o contrafactual sugere que a inflação subjacente teria sido menor na ausência de choques de preços voláteis, mas ainda oscilando ao redor do limite superior do intervalo de tolerância da meta de inflação estabelecida para aqueles anos. A desinflação do período seguinte continuaria com magnitude relevante, mas teria sido mais lenta, particularmente ao longo de 2017, quando o contrafactual esteve acima dos núcleos observados. Tal movimento sinaliza que o comportamento dos preços voláteis contribuiu para o processo de desinflação. Em 2018, observa-se nova discrepância entre as séries, que chega a 2 p.p., em virtude do choque oriundo da paralisação do setor de transporte rodoviário de cargas.”



Riscos para a inflação associados a preços de energia

Consta também no estudo do BC como os preços de energia podem afetar a inflação. O texto explica: “Haja vista a elevada contribuição das tarifas de energia elétrica e dos preços da gasolina para a volatilidade do Índice Nacional de Preços ao Consumidos Amplo (IPCA), este estudo busca avançar na quantificação dos riscos à inflação prospectiva, com enfoque nas transições de bandeiras tarifárias e na cotação internacional do combustível, em reais.”

Veja a conclusão: “O exercício sugere que, em um horizonte de projeção de doze meses, para uma dada projeção do IPCA agregado e considerando o nível de confiança de 50%, a incerteza associada aos preços da gasolina e às bandeiras tarifárias implica intervalo de ±0,30 p.p. ao redor da projeção central.”



Números sobre a utilização do cheque esepcial

O limite para taxa do cheque especial foi fixado em 8%, a partir de janeiro de 2020. O BC também analisou o impacto do uso do cheque especial, cujo limite anual ultrapassa os 100% de juros, no cenário econômico nacional.

O estudo revela as seguintes estatísticas relacionadas ao uso do cheque especial:

- Distribuição das taxas de juros médias mensais, por faixa de renda e de escolaridade;

- Estimativa do comprometimento da renda do usuário com pagamento de juros no cheque especial, por faixas de renda e de escolaridade;

- Recorrência de uso no cheque especial, por faixas de renda e de escolaridade.

Conclusão do BC: “Verificou-se a inexistência de relação sistemática entre as taxas de juros e renda ou escolaridade. Além disso, observou-se que o comprometimento de renda com juros do cheque especial varia de forma inversa com a renda. Por fim, para os níveis mais baixos de recorrência de uso notou-se maior presença dos usuários das faixas mais altas de renda e dos níveis mais altos de escolaridade, porém tal padrão é mais acentuado na segmentação por faixas de renda do que na segmentação por escolaridade.”



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