Economia

"Não é questão de ser fintech ou ser banco, todos terão de ser digitais", diz presidente do BC

Não pode haver mais diferença entre um grande banco ou uma fintech. Todas as instituições financeiras precisam ser digitais. Foi o que disse Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, nesta segunda-feira (02/12) no almoço anual da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo ele, é importante entender a modernização do sistema financeiro.

“Em meios de pagamentos, avançamos mais nos últimos três anos do que nos dez  anteriores”, diz. Roberto Campos Neto ressaltou que hoje é muito mais barato produzir, guardar e interpretar os dados, e isso está revolucionando as instituições financeiras. Tecnologias como inteligência artificial e blockchain têm se tornado cada vez mais comuns nos bancos brasileiros, que usam essas  ferramentas para oferecer melhor experiência aos clientes e maior segurança. “Não é questão de ser fintech ou ser banco, todo mundo vai ter de ser digital. A questão é entender onde usar a tecnologia para melhor atender ao cliente”, disse. Com a maior digitalização dos bancos, afirmou o presidente do BC, a tendência é de maior segmentação.

Murilo Portugal, presidente da Febraban, também falou sobre a importância da digitalização dos bancos. “Todo banco relevante vai ter que ser um banco digital, alguns com agências físicas e outros não, mas todos precisam se adaptar à demanda por mais personalização”, disse. “Os bancos sempre estiveram na vanguarda tecnologia do país, foram os primeiros importar mainframes e fabricar computadores”.

As barreiras de entrada para novas empresas no setor bancário ficaram menores, diz Campos Neto. Isso explica o aumento do número de fintechs – as plataformas de crédito cresceram 300% no último ano. “Para o Banco Central, essa competição é importante, e os bancos vêm fazendo um bom trabalho, inclusive com alguns se unindo a essas novas plataformas”, afirma.

Crédito

Campos Neto comemorou a queda dos juros no Brasil e a expansão do crédito tanto para o setor produtivo quanto para os consumidores. Não apenas a Selic está em sua mínima histórica, mas as taxas de juros de longo prazo acompanharam esse movimento, ressaltou o presidente do BC. “Um ano atrás, a Selic estava em 6,5%, mas a taxa de longo prazo chegava a 12%. Hoje, a Selic está em 5% e a taxa de longo prazo aponta para 7%”, disse. Isso viabiliza o financiamento privado de obras de infraestrutura, já que o custo do capital está abaixo da taxa interna de retorno da maioria dos projetos.

“Quanto mais conseguirmos financiar projetos com dinheiro privado, menos precisaremos de subsídios”, disse. Assim, afirma, pode-se reduzir o gasto do governo e redirecionar, pelo menos em parte, o crédito público para pequenas e médias empresas.

“Hoje, nosso crescimento depende mais do dinheiro privado, o que é positivo. A alocação de recursos é menos eficiente quando é feita com dinheiro público do que quando é feita com dinheiro privado”, afirma.

Murilo Portugal, da Febraban, diz que no ano passado iniciou-se um ciclo de expansão de crédito, em especial do crédito privado. “Isso é positivo para gerar o crescimento da atividade econômica”, afirma. Segundo ele, a taxa de juros para pessoas físicas caiu 24 pontos porcentuais em um ano, enquanto a taxa para empresas recuou 12 pontos porcentuais.

Nesta segunda-feira, teve início um mutirão, organizado pelo BC e pela Febraban, de renegociação de dívidas em atraso. Durante esta semana, parte das agências bancárias  do Banco do Brasil, Banrisul, Bradesco, Banco Pan, Caixa Econômica, Itaú e Santander terão o horário de atendimento estendido até as 20h para oferecer orientação financeira e negociar dívidas em atraso de seus clientes, em condições especiais.  

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