Economia

No mundo, 60% dos grandes bancos ‘destroem’ valor

Estudo da consultoria McKinsey releva que 60% dos mil maiores bancos do mundo, considerando o critério de total de ativos, estão destruindo valor, isto é, com os retornos abaixo do custo de capital. A situação se torna preocupante se considerado o ciclo econômico com juros baixíssimos ou negativos e desaceleração global que vem pela frente, e o ambiente de maior competição proporcionado pelas fintechs.

“Um conjunto de indicadores de fato revela que estamos chegando ao final de um ciclo econômico e que o próximo será mais negativo, o que pode ser um desafio ainda maior para esses bancos”, diz Alexandre Sawaya, líder da área de instituições financeiras da McKinsey no Brasil.

Entre 2002 e 2007, os bancos viviam um momento chamado de “expansão insustentável” pelo estudo. Nesse período, o retorno médio sobre os ativos tangíveis - indicador de rentabilidade das instituições financeiras - era de 16,9%, enquanto as receitas cresciam a um ritmo médio anual de 16,8%.

Já entre 2010 e 2018, período que sucedeu a crise econômica global chamado de “nova realidade” no estudo, o retorno dos maiores bancos do mundo caiu a 10,5%, e as receitas cresceram em média 3,6% ao ano.

Segundo Sawaya, o crescimento mais tímido de retornos e receitas ocorreu porque, após a crise mundial, os bancos diminuíram o nível de risco em suas atividades, o que levou ao direcionamento dos negócios a mercados e segmentos menos rentáveis. Os reguladores, por sua vez, impuseram algumas limitações de alavancagem, para trazer mais segurança ao sistema financeiro.

Os bancos dos países emergentes viram um declínio mais acentuado dos retornos, de 20% em 2013 para 14,1% em 2018, em parte devido à competição trazida por novas tecnologias. Os pares dos mercados desenvolvidos, por sua vez, foram em busca de produtividade e gerenciamento de riscos, elevando o retorno de 6,8% para 8,9% no período.

No Brasil, após anos de retornos acima de 20%, a expectativa é que, daqui para frente, devido à queda da taxa básica de juros à mínima histórica, as instituições financeiras devam ter uma redução das margens. Os dados da McKinsey já mostram que o retorno médio sobre ativos tangíveis foi de 19,8% no ano passado.

Um sinal de fim de ciclo para os bancos, segundo a Mckinsey, é que o avanço no crédito das maiores instituições financeiras globais tem sido mais tímido. Entre 2017 e 2018, foi de 4%, o menor crescimento dos últimos cinco anos e abaixo do patamar do Produto Interno Bruto (PIB) global de 6% no período. Na média entre 2013 e 2017, o crédito havia registrado um avanço de 5%, um ponto acima do PIB mundial.

Outro desafio enfrentado pelos bancos, além do cenário econômico, é o aumento da competição vinda de fintechs e big techs. De acordo com o estudo, essas empresas estão atacando os segmentos com maiores retornos em que os bancos atuam, os quais representam aproximadamente 45% do total das receitas globais das instituições financeiras.

As fintechs, particularmente, têm recebido cada vez mais investimentos e ganhado escala. No ano passado, os aportes nessas companhias somaram US$ 2,5 bilhões no mundo, um avanço de 29% sobre o ano anterior. No total, são 40 unicórnios - startups que valem mais de US$ 1 bilhão -, um grupo que reúne empresas com valor total estimado em US$ 150 bilhões.

De acordo com a McKinsey, localização, escala e modelo de negócio são os principais pontos para explicar o fato de um banco criar ou destruir valor. “Bancos da América Latina, inclusive Brasil, estão em uma região de mercado mais favorável, enquanto a Europa hoje tem os retornos mais baixos”, diz Sawaya. Parte da explicação está nas características da América Latina, como a baixa penetração dos serviços bancários entre a população.

Considerando essas características, a consultoria identificou que um terço da amostra analisada está bastante fragilizada, uma vez que se encontram em mercados com cenário econômico mais desafiador e são bancos que não têm escala. “Esses bancos têm maior urgência em reagir”, disse o executivo.

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