Economia

Bancos veem retomada de crédito para grande empresa

Depois de amargar queda no saldo de financiamento a grandes empresas em 2018, os bancos traçam um cenário mais positivo para esse segmento neste ano, com a retomada dos investimentos pelas companhias.

O ritmo de expansão dessa carteira, contudo, vai ser menor que o verificado nos ciclos anteriores de crescimento dado o ambiente de mercado de capitais aquecido, que tem permitido às empresas alongar o prazo da dívida a um custo mais baixo.

Em 2018, o estoque de crédito para pessoa jurídica cresceu 1,9%, com avanço de 13,2% no volume de concessões, segundo dados do Banco Central. Esse aumento, no entanto, foi liderado pelo segmento de pequenas e médias empresas.

Entre os grandes bancos do varejo, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil apresentaram queda no saldo da carteira de grandes empresas em 2018. O Bradesco registrou crescimento de 4,5% no ano passado, mas verificou recuo de 1,5% no estoque nos últimos três meses em relação a setembro.

Bruno Boetger, diretor-executivo do Bradesco, vê essa queda no quarto trimestre como algo pontual e enxerga uma recuperação da carteira de crédito de grandes empresas neste ano, prevendo crescimento superior ao registrado em 2018. "De maneira geral, estamos muito otimistas com 2019 tanto para o mercado de capitais como para o crédito", diz.

Luiz Felipe Trevisan, diretor comercial do Itaú BBA responsável por grandes clientes, afirma que a queda no saldo da carteira desse segmento em 2018 se deu mais em função da menor demanda por crédito que por uma restrição por parte dos bancos, e já vê uma retomada do interesse por parte das grandes empresas.

"Os dois anos de retração da economia fez com que as empresas se ajustassem à nova demanda. Mas a gente já observa sinais positivos de retomada da demanda para investimentos de longo prazo", diz. Ele destaca que a estimativa de crescimento para a carteira de crédito do banco para 2019 é de 9% a 13%, com o varejo devendo ficar na ponta mais alta e o crédito para grandes empresas na banda mais baixa.

Com a taxa de juros no menor nível histórico, em 6,5% ao ano, e a grande demanda dos investidores por papéis de crédito privado, as empresas têm buscado cada vez mais se financiar no mercado de capitais, principalmente por meio de emissão de dívida. "Vimos muitas companhias acessando o mercado de dívida local, aproveitando a liquidez alta para fazer o refinanciamento de passivos", afirma Jose Rudge Filho, diretor comercial Itaú BBA, responsável pela carteira de grandes clientes.

As emissões de debêntures foram recorde em 2018, chegando a R$ 147 bilhões, crescimento de 52% em relação a 2017. Considerando só as ofertas de renda fixa que foram distribuídas no mercado o volume somou R$ 98 bilhões em 2018. "Acho que as emissões de debêntures que vão a mercado este ano devem crescer em torno de 15%", afirma Boetger, do Bradesco.

Em coletiva para comentar o balanço do banco, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, afirmou que a projeção de crescimento modesto da carteira de crédito do banco, entre 3% e 6% em 2019, reflete o fato de parte das operações de grandes empresas estar sendo transferida para o mercado de capitais. A estratégia do banco tem sido direcionar os grandes clientes para captar recursos no mercado.

Apesar da maior competição com o mercado de capitais, os bancos esperam um crescimento da carteira de grandes empresas neste ano diante da retomada dos investimentos com a melhora da confiança e recuperação da economia. Para Boetger, do Bradesco, alguns fatores devem colaborar para o crescimento da carteira de crédito de grandes empresas como o programa de privatização do governo, que deve aumentar as operações de financiamento a transações de fusões e aquisições, e a menor participação do BNDES no financiamento de investimentos.

Os desembolsos do BNDES em 2018 somaram R$ 69,3 bilhões, queda de 2,1% em relação a 2017. No ano passado, muitas empresas emitiram dívida no mercado de capitais para pré-pagar o BNDES. "À medida que a taxa de juros caiu, o BNDES deixou de ser a alternativa mais barata e muitas empresas têm encontrado operações com custo mais atrativo em outros bancos e no mercado de capitais", destaca Trevisan, do Itaú BBA, que atende no banco de atacado 200 grupos econômicos, com faturamento acima de R$ 4 bilhões.

Segundo Trevisan, o mercado de capitais tem evoluído de forma sistemática, com cada vez mais empresas conseguindo financiar suas dívidas a taxa mais atrativas que a oferecidas pelos bancos. "Se o mercado de capitais será capaz de absorver todas as operações vai depender do nível de investimento que o Brasil vai demandar. O banco tem interesse em aumentar a carteira de crédito, mas sempre procuramos oferecer a melhor estrutura de financiamento em termos de prazo e preço", afirma o executivo.

Boetger, do Bradesco, vê o crédito bancário como complementar às operações do mercado de capitais. "Nem todas as empresas têm acesso ao mercado de capitais e há prazos diferentes para essas transações", afirma.

Para o executivo do Bradesco, os bancos terão um papel mais estratégico no financiamento das grandes empresas, com foco em operações de empréstimo-ponte para operações de fusão e aquisição, que demandam disposição imediata de recursos para um posterior alongamento da dívida no mercado de capitais.

Rudge Filho, do Itaú BBA, destaca a importância do crédito bancário para atender a necessidade de capital de giro das empresas por meio de linhas de curto prazo e de desconto de recebíveis. "É saudável que as empresas acessem diferentes bolsos", diz.

Embora ainda não tenham verificado um crescimento da demanda por crédito por parte das grandes empresas, os bancos já percebem uma melhora do sentimento, o que se reflete nos indicadores de confiança. "A capacidade ociosa na indústria ainda é grande, mas já vemos uma melhora dos índices de confiança do consumidor e de serviços", afirma Rudge Filho. "Algumas empresas já começam a tirar os projetos da gaveta e fazer consultas aos bancos sobre estruturas de financiamento", acrescenta Boetger, do Bradesco.

Da parte dos bancos, a queda da inadimplência e desalavancagem financeira das empresas contribuíram para o aumento da disposição para dar crédito. "Desde o ano passado estamos com maior apetite para emprestar. Queremos crescer a carteira de crédito, obviamente com bons nomes e bons risco de crédito", diz Boetger, do Bradesco.

A aprovação da reforma da Previdência também deve melhorar ainda mais os níveis de confiança e será um gatilho para empresário investir mais. "Se aprovar a reforma da Previdência vai ter demanda para crédito de longo prazo, com os investidores apostando em crescimento sustentável", diz Trevisan, do Itaú BBA.

O diretor do Bradesco afirma que a aprovação da reforma da Previdência deve ajudar a atrair investimentos estrangeiros para a economia real, principalmente para fusões e aquisições. "Os investidores estrangeiros estão mais conservadores, esperando a aprovação da reforma da Previdência", diz Boetger.

Fonte: Silvia Rosa, do Valor

http://www.fintechspress.com/10-credito/1644-bancos-veem-retomada-de-credito-para-grande-empresa