Economia

Patamar de juros deve frustrar a maioria das expectativas em 2019


 
Apesar de brasileiros esperarem uma redução da taxa de juros no próximo ano, especialistas acreditam que a combinação de fatores necessários à queda faz com que seja mais provável que a taxa se mantenha estável.

Segundo pesquisa feita pela Kantar TNS em parceria com a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), 52% de mil entrevistados (em todas as regiões brasileiras) afirmaram que acreditam na redução da taxa de juros no próximo ano.
 

O levantamento foi feito nos primeiros dias que se seguiram à divulgação do resultado das eleições, entre 29 de outubro e 5 de novembro. No relatório anterior, feito no mês de abril deste ano, a porcentagem de pessoas que acreditam na melhora da taxa era de 24%.

Apesar do otimismo da expectativa, especialistas ouvidos pelo DCI afirmam que, mesmo com a melhora das condições econômicas do País, não há ainda fatores suficientes que justifiquem uma queda.

“A população tem essa perspectiva porque tem visto a taxa caindo gradualmente ao longo dos últimos anos, mas esperar uma queda no próximo é mais complicado. Nem mesmo uma queda do spread [diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro] seria suficiente para compensar o provável aumento da Selic”, explica o economista da Boa Vista SCPC, Flávio Calife.

“A taxa básica não está em tendência de queda, com o aquecimento da economia, a perspectiva é de elevação para o ano que vem. Portanto, é mais provável que tenhamos uma taxa de juros mais estável do que em queda”, diz.

De acordo com o último relatório Focus, do Banco Central, a expectativa é de que a Selic encerre o ano de 2019 no patamar de 8%.

Segundo o analista da Planner Corretora, Victor Luiz de Figueiredo Martins, apenas uma atuação mais pontual do Banco Central poderia promover a queda esperada pelos entrevistados da pesquisa.

“Apenas o trabalho da Agenda BC+, como a liberação de compulsórios, a diminuição do custo de crédito ou o aumento de concorrência, poderia ocasionar uma queda”, afirma.

“Esperamos que a taxa de juros se mantenha estável. Até o primeiro trimestre de 2019, não trabalhamos com hipótese de aumento. Se ocorresse, esse avanço viria a partir de abril”, comenta Victor.

A expectativa dos entrevistados pode ser explicada pelo cenário de recente de leve melhora dos indicadores econômicos do País. Os obstáculos específicos para sua concretização, entretanto, fazem com que a perspectiva do mercado se mostre diferente.

“A população mostra um otimismo controlado, crítico. Ela sabe que situação atual ainda é desfavorável, mas tem um olhar positivo para o futuro”, comenta a CEO da Kantar TNS Brasil, Valkiria Garré.

“As pessoas esperam melhora em todos os principais indicadores econômicos, esperam que a inflação irá continuar baixa, que haverá mais empregos, que a renda irá aumentar e que irão consumir mais. A realidade, porém, deverá ser menos positiva que as expectativas”, afirma o sócio e presidente da Boanerges Consultoria, Boanerges Ramos Freire.

“É normal aguardar que as taxas caiam, porque os juros no Brasil são muito altos. O que mais impulsiona a queda dos juros é o aumento da concorrência, o que não existe hoje no nosso país. Portanto, se uma queda acontecer será de maneira muito gradual, e pode demorar”, afirma.

Para o superintendente executivo de produtos de crédito para pessoa física do Santander, Eduardo Jurcevic, o comportamento dos juros futuro é o fator determinante para a definição da taxa.

“Mais importante que Selic são os juros futuros. Com o mercado tendo um cenário mais claro após as eleições os juros futuros estão em um patamar mais baixo. Se tivermos uma recuperação maior da economia, melhora nos indicadores econômicos, aprovação das reformas e a perspectiva do futuro se mantiver positiva, existe espaço para fazer redução nas taxas de juros”, afirma Eduardo.

“Mesmo com Selic apresentando alta, se os juros futuros se estabilizarem em níveis mais baixos, e a inadimplência se mostrar menor, teremos espaço para taxas mais baixas, principalmente em modalidades como o crédito consignado”, conclui o especialista.

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