Economia

Estoque e concessão ficam abaixo do previsto


 
Com desembolsos abaixo do esperado e queda de 5,5% no estoque de crédito, os empréstimos são voltados para curto prazo e ainda não sentem impacto na menor inadimplência. Expectativa é que a incerteza e os juros altos adiem retomada para 2019.

Ao mesmo tempo em que o estoque voltado a financiamentos corporativos saíram de R$ 1,493 trilhão em abril de 2017 para R$ 1,411 trilhão no mês passado, o volume nas concessões às empresas ainda não refletem o crescimento esperado.

Segundo o relatório de crédito do Banco Central (BC), divulgado ontem, o montante emprestado às companhias saiu de R$ 105,3 bilhões para R$ 133,3 bilhões na mesma base de comparação.

“Essa curva não está reagindo como o esperado, principalmente porque as empresas continuam bastante acuadas em relação a crédito. Seja pelos juros ainda altos, pela capacidade ociosa ainda grande ou até mesmo pela lenta recuperação da atividade econômica”, explica o diretor de novos negócios da PH3A, Marcelo Monteiro.

Nessa linha, não apenas os economistas revisam para baixo suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre como o último levantamento da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) aponta que um terço das companhias do País ainda estão com uma capacidade ociosa elevada.

Segundo o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) George Sales, a demora de repasse na queda dos juros e a incerteza quanto às eleições também têm postergado a decisão por investimentos.

“Os bancos demoram cerca de um ano para reduzir os spreads bancários em relação à Selic [taxa básica de juros]. Essa falta de uma redução imediata e todas as turbulências não apenas em relação às eleições, mas também como reflexo das últimas semanas no ambiente internacional e doméstico também acabam interferindo”, comenta.

Ele pondera, no entanto, que os reflexos mais significativos da Selic nos juros devem chegar junto ao período eleitoral do Brasil. “Assim, é provável que a retomada do crédito corporativo ainda demore. O empresário quer captar dinheiro e quer crescer, mas ele precisa de um fomento e de um cenário mais amigável”, diz Sales.

Ao passo que a Selic atingiu o menor patamar histórico no último mês de março (6,5%), os spreads bancários – a diferença entre o custo de captação dos bancos e da taxa cobrada nos empréstimos – atingiram uma média total de 19,7 pontos percentuais (p.p.) em abril, um recuo de 2,5 p.p. frente ao observado no mesmo mês de 2017 (22,2 p.p.).

Especificamente para pessoas jurídicas, a queda foi de 1,7 p.p. na mesma relação, de 11,2 p.p. para 9,5 p.p..

Modalidades em destaque 

Para o economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Eduardo Coutinho, apesar de as projeções para o mercado de crédito ainda serem positivas para 2018, a baixa confiança no futuro ainda deve refletir em uma “expansão muito lenta”.

“Os empresários precisam ter mais confiança em relação ao futuro e toda a intenção de tomar recursos ainda tem muito a ver com o curto prazo. O cenário é muito pacato para termos crescimentos mais consolidados”, avalia.

Tendo em vista o ambiente doméstico e o cenário internacional, por sua vez, as linhas de maior demanda para o crédito corporativo foram as de antecipação de recebíveis e de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC).

Os empréstimos para desconto de duplicatas e recebíveis, por exemplo, ficaram em um total de R$ 23,6 bilhões em abril deste ano, aumento de 58,9% em relação a igual mês de 2017 (R$ 14,8 bilhões), enquanto as antecipações de faturas de cartão mais do que duplicaram (+125%), de R$ 5,1 bilhões para R$ 11,5 bilhões.
“Por enquanto, a demanda dos empresários é por fluxo de caixa. Busca de capital para investir, quando ainda está ocioso e com tanta incerteza e demora na retomada, fica bem complicado”, pondera Sales.

Ele reforça, por outro lado, que a questão cambial, mesmo abrindo espaço para produção nacional e, consequentemente, para as companhias que exportam, também traz receio empresarial ante a volatilidade que o dólar tem demonstrado nas últimas semanas.

Os créditos cedidos para ACC, por sua vez, ficaram em R$ 14,6 bilhões, alta de 90,8% na mesma base de comparação (estava em R$ 7,7 bilhões).

Segundo Monteiro, da PH3A, a pressão dos juros com a melhora da economia estadunidense também colabora para essa demanda por ACC, em uma tentativa de proteção por parte das empresas que têm dívida em dólar.

“A tendência, inclusive, é de que essa modalidade continue subindo, principalmente porque com a maior dependência do dólar, a busca por hedge para tentar reduzir o risco cambial também deve crescer”, complementa o executivo.

Calotes empresariais

Ainda seguindo a proporção de tendências positivas, outro fator é a inadimplência de pessoas jurídicas no mês passado.

De acordo com o relatório do BC, os calotes totais das empresas mostraram um recuo de 0,8 p.p. em abril frente ao observado em igual intervalo de 2017, de 3,8% para 3%.

Nos recursos livres, a queda foi de 1,4 p.p. (de 5,6% para 4,2%), enquanto nos direcionados caiu de 2,2% para 1,7%.
 
https://www.dci.com.br/financas/estoque-e-concess-o-ficam-abaixo-do-previsto-1.710692