Economia

Por que o crédito continua caro?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu na quarta-feira 7 a taxa de juros básicos da economia brasileira, a Selic, para 6,75% ao ano. Foi o décimo primeiro corte consecutivo, levando a taxa ao menor patamar da história. Há dois anos, estava em 14,25%. A queda constante da Selic é um ótimo indicador da saúde econômica do País: com juros menores, as empresas têm mais condições de financiar os investimentos necessários para crescer. Mas enquanto a taxa de juros básicos caiu pela metade, o mesmo não vem ocorrendo com o custo do crédito ao consumidor — pelo contrário. Os valores cobrados pelos bancos para quem usa cheque especial ou parcela a fatura do cartão de crédito continaram crescendo. Em dezembro de 2017 as taxas eram, respectivamente, 323% e 169,2% ao ano. O resultado prático dessas taxas é o aumento das dívidas de quem pega dinheiro emprestado e não consegue honrar os pagamentos. “Eu comecei com uma dívida de R$ 4 mil no cheque especial. Já paguei várias parcelas e ainda devo quase R$ 5 mil”, diz a designer Dayan Rubian, que precisou de um empréstimo bancário ao mudar de casa. A situação é semelhante à do médico Rodrigo Couto, que resolveu empreender e, após esgotar o crédito consignado, recorreu ao cheque especial e ao cartão rotativo. “Peguei R$ 40 mil e, em cinco meses, a dívida subiu para R$ 132 mil. Hoje gasto metade da minha renda com o pagamento dos empréstimos”, diz ele.

O custo do crédito é exorbitante no Brasil e suas consequências diretas são reprimir o poder de consumo das famílias e impedir o crescimento da economia. “O mercado nunca se orgulhou e não se orgulha das taxas”, diz Ricardo de Barros Vieira, diretor-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). “A realidade leva a isso porque, em caso de inadimplência, por exemplo, todo o custo recai sobre os bancos”, afirma. O argumento das instituições financeiras perde força quando os números mostram que a inadimplência está em queda. Mesmo com o consumidor honrando suas dívidas, as instituições financeiras não abrandam o valor dos juros. A diferença entre o custo do dinheiro para o banco e o quanto ele cobra do cliente é conhecido como spread bancário – e o Brasil possui um dos spreads mais altos do mundo. Por último, e esse pode ser o fator mais importante, está a concentração do mercado, que impacta no lucro das instituições. “Hoje os cinco maiores bancos respondem por mais de 80% das operações de crédito do País. Eles praticamente determinam as regras do mercado”, diz Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

Para tentar tornar o sistema financeiro mais saudável, os agentes reguladores estão de olho no setor bancário. Foi assim, com uma resolução do Conselho Monetário Nacional, que caiu o número de clientes enforcados no rotativo do cartão de crédito, modalidade com um dos mais altos juros. Desde abril de 2017, os bancos devem transferir para o cartão parcelado os clientes há mais de 30 dias no rotativo. Agora se espera um posicionamento da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) sobre o cheque especial. “Estamos aguardando uma autorregulação”, diz Fernando Rocha, chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central (BC). “O que se imagina são linhas de educação financeira que levem a não utilização do crédito mais caro, somadas a normas que limitem seu uso”, diz ele. Os bancos, por sua vez, parecem não estar com pressa. “A Febraban elabora propostas para melhorar o instrumento e as anunciará, neste ano, quando forem concluídas”, afirmou a instituição por meio de nota. A Secretaria de Comunicação da Presidência esclareceu que o governo não está preparando mais medidas além das já tomadas e que não existe a possibilidade de reduzir os juros dos bancos estatais para influenciar o mercado.

Enquanto os consumidores aguardam as regulações, há uma nova opção cada vez mais atraente: as fintechs, instituições que oferecem taxas mais baixas por trabalhar com custos menores do que os dos bancos — e também por não deixar que os maus pagadores entrem. “Nosso spread também é muito menor, de apenas 5%”, diz Marcelo Ciampolini, CEO e fundador da Lendico, que oferece empréstimos de R$ 2,5 mil a R$ 50 mil por uma taxa que varia de 38,78% a 117% ao ano. É o momento dos bancos prestarem mais atenção em suas práticas de crédito, eis que novas alternativas estão surgindo como opção mais interessante para o consumidor, já cansado de ser refém do endividamento.
 

 
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