Economia

Crédito produtivo cai R$ 50 bilhões e bancos privados temem concorrência


São Paulo - O crédito para empresas caiu mais de R$ 50 bilhões nos três maiores bancos privados do País no terceiro trimestre deste ano ante igual período de 2016. A concorrência do mercado de capitais tende a pressionar juros menores e alta da receita com serviços em 2018.

As três maiores instituições financeiras privadas do País - Bradesco, Itaú e Santander - somaram R$ 595,276 bilhões em concessões de recursos para pessoas jurídicas no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 8,7% frente ao mesmo intervalo de 2016 (R$ 655,808 bilhões).

De um lado, a baixa atividade do País somada à ociosidade da indústria e ao alto endividamento das empresas ainda trazem certa cautela da parte tomadora do mercado.

De outro, o risco de inadimplência e a falta de confiança de que a retomada econômica traga grandes avanços em 2018 também trazem um "mix defensivo" de produtos e mais rigor nas concessões dos credores.

"O crescimento dessas carteiras continuará baixo. A grande maioria das empresas está vendendo ativos para tentar desalavancar enquanto os bancos, apesar de reduzir as provisões na margem, continuam a subir o índice de cobertura", explica o analista da Planner Corretora Victor Martins, ressaltando que a sinalização é de que o conservadorismo continue.

Os três bancos apontaram altas significativas na sua capacidade de cobrir os créditos vencidos há mais de 90 dias no terceiro trimestre em relação a igual intervalo de 2016. O Itaú Unibanco avançou em 42 pontos percentuais (p.p.) o índice de cobertura no período, de 204% para 246%.

Já o Santander avançou 31,6 p.p. na mesma relação, de 198,1% para 229,7%, enquanto o Bradesco, que teve seus resultados divulgados na última quarta-feira, avançou 50,9 p.p., de 199,6% para 250,5%.

"Isso sinaliza que essas instituições financeiras não estão acreditando que a atividade econômica seja tão positiva a ponto de apresentar diminuição de risco e prevêem uma alta do crédito bem mais devagar ao longo do ano que vem", acrescenta Martins.

Da outra ponta, os especialistas consultados pelo DCI ponderam que a pressão exercida pela concorrência do mercado de capitais como forma mais barata de captação de recurso tende a se intensificar.

O movimento deve ser gradativo, conforme a consolidação da Taxa de Longo Prazo (TLP) e a consequente equalização dos juros do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às taxas do mercado.

"A TLP já traz consigo a tendência de que as companhias que pegavam empréstimos com juros subsidiados migrem ao mercado de capitais por meio de ações ou debêntures para captar recursos de forma mais barata. Os bancos ainda cautelosos e as altas taxas cobradas devem reforçar esse movimento", analisa o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais do Distrito Federal (Ibmec-DF) Marcos Melo.

"Fase de transição"

Ao mesmo tempo, o crescimento gradativo da atividade econômica e as quedas consecutivas já vistas na taxa básica de juros (Selic) também devem exercer pressão nos bancos por saídas alternativas para manter a rentabilidade.

"Mesmo com a ociosidade e a lenta recuperação como barreiras, o ajuste terá que vir, seja com juros mais baixos ou mais receita de serviços. Sem funding adequado, as empresas recorrerão a outras formas", afirma Martins. "No curto e médio prazo, a busca por perfis mais longos e baratos devem movimentar o mercado", avalia o analista da Planner.

"Ambos devem trazer soluções para movimentar recursos, até porque nem todas as companhias conseguem ir à mercado e nem tudo compensa. Mas são produtos concorrentes e isso tende a ficar ainda mais evidente", completa.

"É uma fase de transição. Apesar da maior influência vir da recuperação econômica, as mudanças devem acontecer em breve. Seja pela criação de facilidades e a melhor comunicação da B3 para facilitar a captação de recursos ou por novos produtos de crédito", diz Melo, do Ibmec-DF.

Dentre os bancos, no entanto, a preocupação está mais no atraso da demanda.

"O que dita o ritmo de crescimento isso é o apetite das empresas em tomar crédito e, com as eleições de 2018, isso pode ficar para depois, por exemplo", avalia o presidente do Itaú, Candido Bracher.

"Tudo tem a ver com a confiança que, nas empresas, ainda está começando a voltar. O nosso foco é garantir a entrada de crédito de boa qualidade, mas é preciso primeiro que as companhias entendam a necessidade de tomar crédito para investir", disse o diretor de relações com investidores do Bradesco, Alexandre Glüher.

Balanço

O lucro líquido ajustado do Bradesco, divulgado na última quarta-feira, ficou em R$ 4,810 bilhões no terceiro trimestre deste ano. O número representa um aumento de 7,8% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 4,462 bilhões) e alta de 2,3% em relação aos três meses imediatamente anteriores (R$ 4,704 bilhões).

A carteira de crédito total do banco ficou em R$ 486,86 bilhões, queda de 1,4% em relação a junho (R$ 493,57 bilhões) e de 6,7% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado (R$ 521,77 bilhões).

"Já vemos melhora no crédito à pessoa física e mesmo com o fato de que as empresas ainda demoram um pouco para investir, mas a tendência é positiva", conclui o diretor de relações com o mercado do Bradesco Carlos Firetti

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/credito-produtivo-cai-r$-50-bilhoes-e-bancos-privados-temem-concorrencia-id661723.html