Economia

Criatividade do brasileiro e o aumento da inadimplência elevam taxa de juros



São Paulo - As taxas de juros do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito voltaram a subir em junho, após as baixas de abril e maio. Entre os motivos para a elevação estão o aumento da inadimplência e a "criatividade" do brasileiro após medidas adotadas pelo Banco Central.

Dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostram que a taxa média mensal do rotativo do cartão de crédito subiu 0,21 ponto percentual para 13,46% em junho (355,11% ao ano), e, ao mesmo tempo, a taxa média do cheque especial avançou 0,05 ponto percentual para 12,33% (303,6% ao ano).

"Na média geral, o custo do crédito à pessoa física caiu, mas subiu nas duas modalidades mais emergenciais: o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito. Isso é sinal do aumento de inadimplência, 61 milhões de pessoas estão endividadas", argumentou o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José ribeiro de Oliveira.

Outro motivo para a elevação dessas taxas pelos bancos está relacionada a falta de educação financeira e a chamada "criatividade" do brasileiro após o limite de 30 dias do rotativo do cartão instituído pelo Banco Central (BC).

Antes, o cliente que empurrava as contas para frente pagava a fatura do cartão de crédito com o cheque especial. Agora, após a mudança do BC feita em março, os clientes estão evitando o cheque especial. "As pessoas estão utilizando mais o cartão de crédito e depois acabando entrando no parcelado automático do cartão", observou o economista da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi.

Para o economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, o País vive um problema de falta de educação financeira, questão que está sendo tratada dentro da Agenda BC+ no pilar de cidadania.

"O brasileiro é criativo. Na baixa renda ainda é obrigado lidar com o fluxo de caixa para fazer o orçamento da família. Quando acaba o cheque especial, usa o cartão de crédito, o cartão de loja (crediário) e até o consignado (INSS) de um membro da família, e depois se não paga, o aposentado é que fica com o salário menor", diz.

Agenda BC+

Segundo Tingas, o Banco Central com sua Agenda BC+ está no caminho certo para buscar um sistema de crédito mais sustentável. "A medida do limite do rotativo [em 30 dias] foi positiva, vamos aguardar para ver [outras resoluções]. Estamos caminhando, não é na melhor velocidade, mas há uma velocidade", comentou.

No mercado há rumores de que o Banco Central também possa promover mudanças no cheque especial. Mas a autoridade que regula o sistema financeiro não comenta esse tipo de assunto à imprensa. "O BC toma medidas com cautela para o sistema financeiro", diz o economista Mauricio Godoi.

A proposta que pode ser adotada no caso do cheque especial seria semelhante ao limite de 30 dias para rotativo do cartão de crédito. "Um prazo de 30 ou 60 dias para evitar casos de super endividamento, em que a dívida vira uma bola de neve", diz o economista.

Passado esse tempo, a exemplo do rotativo do cartão, o cliente do cheque especial teria que quitar seu débito ou será "convidado" pela instituição financeira para ir para um outro empréstimo de prazo mais longo e com juros mais baixos.

"O BC está estudando algo para o cheque especial. Medidas como essa do rotativo são positivas. O brasileiro é muito acomodado, ele vai rolando a dívida por um ou dois anos até ficar super endividado [e dar o calote]. Antes, ele rolava, agora será obrigado a tomar um parcelamento com juros menores e terá que pagar", diz Oliveira.

O último boletim do Banco Central mostrou que taxa média mensal do parcelado no cartão de crédito ficou em 8,3% em maio, 0,2 ponto percentual acima da taxa praticada em dezembro de 2016.

Ernani Fagundes

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