Economia

Juros acompanham redução da Selic, mas incertezas inibem quedas futuras

São Paulo - As quedas da Selic e a retomada pré-crise política, levaram as taxas de juros do mercado de crédito, em maio, ao menor patamar desde dezembro de 2015, a 29,2% ao ano. As incertezas originadas desde então, porém, devem repercutir em uma piora do cenário.

A redução foi de 1 ponto percentual (p.p.) na taxa de juros total de maio contra abril (30,2% a.a.) e de 3,5 p.p. em relação a igual mês de 2016 (32,7% a.a.), segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC).

Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Silvio Paixão, além da forte influência da redução na taxa básica de juros - que saiu de 14,25% em agosto de 2016 para 10,25% em maio deste ano -, existem "características do mercado" que influenciam esse resultado.

"Há uma revisão quanto ao endividamento. Quem empresta quer negociar e, quem toma emprestado, busca soluções menos custosas", afirma o especialista. "Isso sem contar as mudanças das novas regras do rotativo", completa.

Ao mesmo tempo, os dados do BC apontam que as taxas totais de juros do rotativo do cartão de crédito para pessoa física saiam de 428,1% a.a. em abril, para 363,3% a.a. em maio, redução de 64,8 pontos percentuais. Em maio de 2016, estava em 474,7% ao ano.

Segundo o diretor da plataforma de crédito Just, Bruno Poljokan, na mesma linha em que a Selic reduz e influencia os números gerais, a migração para as taxas menores do parcelado e do crédito pessoal também provocará um "ajuste" do mercado de crédito.

"Esse é um efeito que acontecerá bastante nos próximos meses e que pode, de alguma forma, influenciar positivamente para a queda mais forte dos juros", pontua o executivo.

Silvio Paixão reforça, porém, que a tendência é que os bancos repassem um aumento nas taxas para os demais créditos.

"É um efeito de compensação para justificar uma maior captação. Sem isso, os bancos teriam que multiplicar muito sua carteira, situação muito difícil perante o cenário. O custo de crédito tem características nocivas e ainda demoraremos muito para ver isso melhorar", pondera o professor.

Reversão de cenário

Da mesma forma, outro ponto levantado pelos especialistas consultados pelo DCI é a crise política que se alastrou em maio e que já demonstrou resultados mais negativos quanto a inadimplência do mês e que ainda deverá puxar taxas para cima e concessões para baixo ao longo de junho.

Segundo dados do BC, a taxa total de inadimplência atingiu o maior patamar em mais de dois anos, a 4% em maio, alta de 0,1 p.p. contra abril (3,9%) e de 0,3 p.p. em relação a igual mês de 2016 (3,7%).

"O BC já sinalizou quedas menores e mais lentas da Selic para os próximos meses e isso pode e vai interferir na percepção bancária", avalia o economista da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godói.

"As reformas tendem a passar abaixo das necessidades do governo e, somada ao ambiente político, as taxas de juros devem diminuir ou parar as quedas até que a tomada de decisão seja mais certeira", conclui Silvio Paixão.

Isabela Bolzani

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