Economia

Instituições digitais tendem a ganhar fôlego com a nova regulação pelo BC

São Paulo - O mercado de fintechs tende a ganhar fôlego neste ano frente a perspectiva de uma futura regulamentação mais específica pelo Banco Central. O crescimento médio do segmento mais do que dobrou em 2016 e a expectativa é "quebrar o monopólio bancário".

O último levantamento da Finnovista e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da outra ponta, apontam que 64,4% dos gestores de fintechs do Brasil afirmam que a regulação atual está "adequada" ou que "não há necessidade de uma regulamentação específica"; enquanto outros 17,8% dizem que "a regulamentação atual é excessiva".

O anúncio de uma nova regulamentação foi divulgado em meados de maio, pelo diretor de regulação do Banco Central (BC), Otávio Damaso, que afirmou que a autoridade monetária já estuda implementar regras mais específicas para as fintechs de crédito ainda este ano.

De acordo com o CEO da Creditas, Sergio Furio, a conversa das plataformas financeiras virtuais com o BC para uma regulamentação que "apoie esse ecossistema" já acontece há um tempo, principalmente como forma de "fomentar a concorrência".

Nesse sentido, os planos do BC consistem em dar maior flexibilidade e adequação às fintechs, possibilitando que essas empresas escolham se manterão suas respectivas parcerias com os grandes bancos ou se passarão a atuar de forma independente.

"Talvez quando a regulação do BC surgir as plataformas financeiras digitais comecem a analisar o que faz mais sentido para cada estratégia, se há viabilidade em operar sozinho ou não mas, do jeito que estamos, é confortável. Operamos bem com as instituições financeiras como parceiras", pondera Furio, CEO da Creditas.

Para o sócio fundador da Geru, Sandro Reiss, porém, é importante ressaltar que o movimento "traz competição", o que gera uma resposta mais positiva do consumidor.

"O surgimento de empresas em setores que eram dominados pelos bancos e uma regra que possibilite maior segurança jurídica para sua atuação traz ofertas e experiências melhores, abrindo um pouco esse mercado", analisa o executivo.

Ele acrescenta que a expectativa, nesse sentido, é melhorar cada vez mais a resposta bancária às novas estratégias digitais que o sistema financeiro passa a adotar.

"A primeira resposta das grandes instituições financeiras foi a de revisitar suas táticas, tanto porque os clientes começaram a exigir mais como porque o empoderamento da experiência fez essa alavanca. A tendência é que isso continue", completa Reiss.

"Sem escapatória"

Outro ponto abordado foi o número cada vez maior de empresas digitais no País e a consequente necessidade de adaptação do "monopólio bancário" às novas diretrizes.

Ainda de acordo com dados do BID e da Finnovista, o Brasil é o líder em quantidade dessas empresas na América Latina, com 32,7% do total (230 de 703 instituições).

"As fintechs nascem enxutas, com estruturas de custos muito menor e produtos melhores, o que é uma grande oportunidade de tentar reduzir a cultura de altos juros. De qualquer forma, isso acaba sendo um incentivo", argumenta o CEO da Celcoin, Marcelo França.

Segundo o CEO da Mundipagg, João Barcellos, porém, a "briga entre fintechs e grandes bancos precisa ser desmistificada" no mercado.

"Essa competição existe por problema único e exclusivamente dos bancos porque, quando há a introdução de novos serviços, há movimentos diferentes dentro desse jogo. Isso está começando a mudar", comenta o executivo.

Os dados ainda mostram que quase metade (49%) da população latino-americana é desbancarizada. Para Barcellos, é uma "grande oportunidade de crescimento" à qual os bancos deverão se adaptar.

"Os bancos não perdem com as fintechs, eles ganham, exatamente porque começa a inserir consumidores que antes não faziam parte do sistema. Isso já começa a dar frutos, mas ainda é um mercado muito monopolista. De qualquer forma, os entraves são batalhas ganhas e uma hora essa caixa preta será aberta. Não tem escapatória", conclui.

Isabela Bolzani

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