Geral

“Não sei” é tão relevante quanto “eu sei”

Todos querem e se esforçam a todo momento para mostrar o que sabem fazer. Nas escolas, nas empresas, na politica. Em todas as áreas da vida social.

No universo da gestão moderna, quem “sabe mais” pode até “virar herói”, mesmo que momentaneamente, mas, muitas vezes, o suficiente para galgar promoções, subir nos cargos...

Mas o detalhe que poucos percebem é que para as organizações, para as empresas, esse fenômeno nem sempre é bom. Isso porque o “herói solitário”, o colaborador “brilhante”, aquele que “tudo sabe” e sempre faz questão de demonstrar o que sabe, consegue, sim, resolver problemas aqui e ali, “apagar incêndios”, dar resultados em curtos prazos.

Mas, na maior parte das vezes, suas “soluções” nem sempre atacam as causas raízes e, assim, os problemas podem voltar, mais fortes até e mais prejudiciais às companhias do que antes. E aí temos aquele vai e vem de problemas, que são “solucionados”, mas que sempre retornam, o que é algo muito típico nas gestões modernas.

Já na gestão lean, busca-se e estimula-se um outro tipo de atitude. A de pessoas que, diferente de sempre quererem mostrar “o que sabem”, tentam, na maior parte das vezes, mostrar e buscar o que “não sabem”.

Nessa mentalidade, mais importante do que afirmar “eu sei” é assumir o “eu não sei”. Mais relevante do que mostrar o que eu aprendi é questionar: o que eu ainda preciso saber e aprender?

Para conseguir realmente fazer isso, é preciso deixar de lado aquela postura arrogante de “eu sei tudo” e buscar identificar e reconhecer o que não se sabe ainda sobre os problemas.

Mas só se consegue isso pesquisando, investigando, perguntando “por quê?”, indo ao local onde se cria valor para ver com os próprios olhos. Apenas se alcança isso aprendendo. E para se aprender algo, é preciso não se saber esse algo, não é?

Na gestão moderna isso é um tanto difícil. Primeiro porque erradamente ela ainda valoriza o “herói” que sabe tudo. Depois, porque para realmente buscar o que não se sabe é preciso ter dois comportamentos muito difíceis não apenas nas empresas, mas em qualquer outro âmbito social.

Primeiro, é preciso ter “humildade” para assumir o que não se sabe. E como é difícil ter humildade, revelar em alto e bom som que se desconhece algo. Há um equivoco no universo corporativo que diz que a humildade demostra fraqueza, fragilidade... e que esse comportamento será um prato cheio para os loucos em mostrar resultados no curto prazo e passar por cima de quem é humilde.

Trata-se de um grande erro. Demonstrar humildade é uma das atitudes mais criadoras de valor, principalmente se após esse comportamento vir a ânsia por saber, por buscar as soluções realmente concretas, verdadeiras e inovadoras.

Segundo, é preciso também ter “respeito pelas pessoas”, outra atitude infelizmente rara nas organizações de gestão moderna, nas quais o que ocorre mesmo é o assédio moral disfarçado de “estímulo”, de “superação de metas”.

Pois não há nada mais estimulante e com mais poder se superação do que o respeito pelo colega de trabalho, pelos liderados, pelos líderes, no sentido de ouvir e saber suas ideias e opiniões sobre os problemas reais do trabalho

Assumir que não sabe, com humildade e respeito, sempre buscando entender a realidade, as causas raízes dos problemas, e pensar sempre em múltiplas alternativas e estimular isso entre todos, pode ter um efeito extremante produtivo na sua organização.

Reconhecer não saber é tão importante quanto saber e resolver. É isso que vai nos levar a novos patamares.

http://epocanegocios.globo.com/colunas/Enxuga-Ai/noticia/2016/09/nao-sei-e-tao-relevante-quanto-eu-sei.html