A inadimplência é o maior custo suportado pelas empresas de fomento mercantil

Inicio este artigo com uma frase que mais parece uma notícia do que propriamente um título de um artigo. Mas, como minha pretensão é chamar a atenção para esse grande buraco negro que suga uma boa parte do lucro – quando não avança para o próprio capital - das empresas de Fomento Mercantil, Securitizadoras e FIDC’s, assim o fará.

Iniciei no setor de fomento mercantil há uns bons anos, já diretamente como empresário, e desde que comecei a participar de encontros, cursos e outros eventos do gênero, me chamou a atenção o fato de ouvir colegas empresários noticiarem perdas de valores consideráveis como se fosse uma “fatalidade”, um tipo de acontecimento que era normal e que fazia parte do meio em que vivíamos.

A naturalidade que ouvia colegas dizerem que perderam 50 mil, 100 mil, 500 mil ou até quantias maiores com determinados “golpes inescapáveis” sempre me causou espanto. Nunca fiquei nenhum pouco convencido de que as perdas fossem naturais e que nada ou muito pouco se podia fazer contra elas senão uma “boa” análise de crédito.

Uma eventual perda financeira por pequena que fosse sempre me revoltou, nunca acreditei, nem aceitei que podia conviver facilmente com este fato sempre presente ou latente dentro de uma empresa que trabalha essencialmente financiando terceiros – que nem sempre agem com a devida probidade nos seus negócios.

O resultado desta “revolta” em perder qualquer quantia que fosse me levou a estudar e pesquisar as causas que levam as empresas a ter perdas consideráveis e que muitas vezes acaba por ocasionar o seu fechamento, seja pela perda quase total de seus ativos, seja empurrando o empresário para um setor menos arriscado.

Há um bom tempo tenho tido a oportunidade de conhecer a realidade de inúmeras empresas do Brasil, de todos os portes, com administrações desde exemplares até desastrosas, e somente por isso me arrisco a dizer o que segue. A falta de cuidados com o gerenciamento de riscos é o motivo principal das perdas financeiras nas empresas do setor de fomento mercantil, sendo a prevenção correta e integrada destes riscos colocada em segundo plano – quando existente.

Tenho notado que há uma supervalorização da análise de crédito baseada em restritivos de bureaus de crédito para a abertura de limites de crédito e de aceitação, ou não, das operações oferecidas no cotidiano destas empresas. Permitam-me dizer: isso é muito pouco!

Desculpem enumerar alguns riscos a mais que temos: riscos estratégicos, operacionais, tributários, jurídicos, de imagem, sociais, de segurança patrimonial, de segurança das informações, financeiros, de perda de bons colaboradores, de processos trabalhistas, de obsolescência tecnológica, econômicos, legais, de produtos, pessoais e outros.

Se o empresário ou colaborador de uma empresa do setor não souber responder prontamente as perguntas abaixo está na hora de repensar o modo de administração do risco, vamos a elas:

• Que condições dentro de minha empresa criam ou aumentam o potencial de perdas?

• Qual o benefício/malefício que minha empresa tem em correr determinado risco?

• Quais são os riscos aceitáveis dentro de minha empresa?

• Minha empresa está totalmente preparada para os riscos a que está sujeita?

Desde a década passada foram criadas diversas normas para o melhoramento da gestão nas empresas, sendo as principais as normas ISO da família 9.000, que tratam da Gestão da Qualidade e a ISO 14.000, que trata da Gestão Ambiental.

Na continuidade da preocupação com a melhoria da gestão das empresas houve a publicação, no ano de 2009, da ISO 31.000 que no Brasil foi lançada em 30/11/2009 como ¨ABNT NBR ISO 31000 - Gestão de Riscos, Princípios e Diretrizes¨, tratando exatamente de um ponto nevrálgico das perdas nas empresas de Fomento Mercantil, FIDC’s, Securitizadoras e outras assemelhadas, que é a Gestão de Riscos.

Veja o leitor que esta norma é extremamente recente e demonstra inequivocamente que o mundo empresarial está entrando em uma nova fase de controles, que é a de riscos/perdas. E por qual motivo as empresas de fomento mercantil e outras do gênero devem ficar fora desta nova fase de controles e medições?

Conheço poucos ramos de negócio mais sujeitos a riscos do que aquele em que atuamos, portanto nada mais urgente do que nos aprofundarmos no estudo das causas e consequências das perdas existentes em nossas empresas.

Para provocar, faço mais uma pergunta:

Se a sua empresa parasse de operar hoje, qual a porcentagem de créditos incobráveis teria em sua carteira?

Pois esta é uma pergunta chata e que a grande maioria dos empresários não gosta nem de pensar nisso. Conselho: mesmo que possa lhe tirar o sono, faça esta pergunta todos os dias para que, uma hora ou outra, sua empresa possa iniciar um real e profundo trabalho de gerenciamento preventivo e integrado de riscos que possa trazer mais tranquilidade na hora de responder à questão.

Já dizia David Hall – Continuous Management Risk NASA:

“Se você não puder mitigar o risco agora, esteja absolutamente seguro de que você poderá solucionar o problema depois, quando ele acontecer. ”

Tenho certeza que o bom gerenciamento de riscos é uma questão de competitividade e de sobrevivência. Claro que não há milagres oriundos do gerenciamento dos riscos numa empresa, porém o caminho a ser percorrido da realidade encontrada até um eventual milagre é bastante grande, certamente sua compreensão e implementação podem dar uma “renda extra” para as empresas que se dedicam a utilizá-lo.

Parabéns aquelas empresas que têm um real controle e gerenciamento profissional do risco neste segmento da economia e àquelas que ainda não perseguem este objetivo aconselho que tirem um tempinho para pensar no assunto.

Ao encerrar este artigo deixo uma frase para reflexão, de Antoine de Saint-Exupery:

“O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. ”

Sucesso!
 

Ernani Desbesel

Ernani Desbesel

Especialista em Negócios de Compra de Recebíveis
MBA em Gestão Estratégica de Factoring
Advogado há 26 anos com especialidade em negócios das Empresas de Compra de Recebíveis
Palestrante em 11 cursos sobre o Setor de Compra de Recebíveis
Ex-empresário do Setor de Fomento Mercantil
Consultor de Empresas de Factoring, Securitização e FIDC
Auditor de Riscos da ISO 31000:2009 (Gestão de Riscos)