Economia

MPEs recorrem mais ao crédito para sobreviver

Juntas, as micro e pequenas empresas representam 99% dos negócios brasileiros, respondem por 30% de tudo o que é produzido no País e são responsáveis por 55% dos empregos gerados no Brasil.

Segmento mais vulnerável às restrições de funcionamento em combate ao novo coronavírus, que vêm sendo adotadas desde o ano passado, as micro e pequenas empresas têm visto no crédito um importante aliado no momento de grandes impactos nos negócios, seja em função da redução drástica nas vendas ou da necessidade de se reinventar diante de tantas mudanças trazidas pelo chamado “novo normal”.

Pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra, por exemplo, que desde o começo da crise provocada pela pandemia, 68% das empresas com dívidas em dia buscaram empréstimos e 60% das com dívidas em atraso também. E que, em 2021, a medida governamental mais importante para compensar os efeitos da crise no negócio seria a extensão das linhas de crédito, tendo sido citada por empresários com ou sem dívidas, em atraso ou não – mesmo que o levantamento também indique que o percentual de empresas buscando empréstimo desde o ano passado tenha registrado uma leve retração. 

Houve aumento também no percentual de empresas que conseguiram empréstimos, chegando a 39% do total. Na última pesquisa “O Impacto da pandemia de coronavírus nos Pequenos Negócios”, realizada no fim do ano passado, a proporção era de 34%. Os recursos são majoritariamente utilizados principalmente para capital de giro.

Segundo a entidade, apenas no segundo trimestre do ano passado, até então a fase mais difícil da pandemia do coronavírus no País, o volume de crédito concedido pelos bancos aumentou em 35% comparado ao mesmo período de 2019, passando de R$ 65 bilhões para R$ 87 bilhões.
 


 
Dados do Banco Central (BC) comprovam o movimento ascendente. De acordo com a autarquia, o saldo das operações de crédito para micro, pequenas e médias empresas foi de R$ 7,7 trilhões de março de 2020 a fevereiro de 2021. No período anterior (março/19 a fevereiro/20) o montante havia sido de R$ 6,3 trilhões.

Ainda segundo o Sebrae, entre os empréstimos ou financiamentos tomados pelos pequenos negócios no decorrer do ano passado, 55% foram feitos por meio do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), lançado pelo governo federal para atender aos fortes impactos da crise.

O programa, no entanto, segue suspenso em 2021 e as expectativas são de que o Congresso aprove o projeto para sua retomada  de forma permanente. A proposta já passou pelo Senado e ainda precisa ser validada na Câmara, mas esbarra nas questões orçamentárias do governo.

Bancos liberam crédito para micro e pequenas empresas

O levantamento do Sebrae “O Impacto da pandemia de coronavírus nos Pequenos Negócios” indica também que Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil lideram o ranking dos bancos mais procurados pelos pequenos negócios, seguidos pelo Itaú. Já a lista com as instituições que proporcionalmente concederam mais crédito é formada por Caixa, Banpará e Banco do Nordeste. Para se ter uma ideia, apenas em relação à Caixa, 39% dos pequenos negócios procuraram a instituição, e a taxa de sucesso na obtenção do crédito foi de 35%. Procurada, a Caixa não comentou o assunto.

No caso do Banco do Brasil, 25% dos tomadores de crédito procuraram o banco e a taxa de sucesso foi de 23%. A instituição financeira informou que, por questões de sigilo quanto à divulgação de resultados ao mercado, não é possível detalhar as operações de crédito dos primeiros meses de 2021. No entanto, destacou que no decorrer do ano passado, reforçou seu papel de parceiro das micro e pequenas empresas, acompanhando de perto os negócios diante do cenário desafiador, garantindo a manutenção do crédito ou atuando com prorrogações de parcelas e linhas emergenciais.

Ainda sobre 2020, reforçou que teve forte atuação quanto às linhas emergenciais. “Merecem destaque o Pronampe, com R$ 7 bilhões e 112 mil empresas, e o PEAC Maquininhas, do BNDES, com R$ 2,2 bilhões e 76 mil empresas. Cabe ressaltar também que o BB foi a instituição líder nacional em liberações de crédito no âmbito do PEAC Maquininhas, de acordo com ranking do BNDES”. (MB)

Fintechs triplicam crédito em 2020 e projetam dobrar carteira em 2021

De maneira geral, as concessões de crédito no País cresceram 5,9% no ano passado em relação ao exercício anterior, segundo o Banco Central, mas entre os bancos digitais e fintechs de crédito, os empréstimos triplicaram, segundo estimativas de associações representantes do setor. A indicação é de que o segmento fechou 2020 com um volume de crédito concedido da ordem de R$ 10 bilhões, ante R$ 3 bilhões em 2019. E o cenário para 2021 é que essas operações possam chegar a R$ 20 bilhões.

Segundo a VP da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), Ingrid Barth, a pandemia não apenas aumentou a demanda por crédito, como também acelerou a adoção de tecnologia no consumo de serviços financeiros. Conforme ela, também foi observado aumento no número de renegociações de linhas de crédito já liberadas pelas fintechs, flexibilizando assim o pagamento por parte dos consumidores – situação a qual as empresas precisaram se adequar.

“Além de alongar o prazo para as linhas já tomadas, também houve uma grande mobilização para que as fintechs pudessem ser utilizadas como instrumento de repasse de linhas de auxílio subsidiadas pelo governo, bem como no repasse do auxílio governamental, uma vez que essas empresas, por serem nativas digitais, poderiam ser usadas como canais via aplicativos celulares”, explicou.

Desta maneira, também foi verificado aumento tanto no número de fintechs no País, quanto nos investimentos diretos nesses projetos via venture capital. Estima-se que hoje existam em torno de 1.000 fintechs atendendo os mais diversos setores e produtos, e que metade delas seja focada em pequenas e médias empresas.

https://diariodocomercio.com.br/negocios/crise-leva-empresas-a-buscar-credito-para-minimizar-perdas/