Economia

Inadimplência cria imunidade

Alguns dos mais temidos efeitos da pandemia sobre a economia real, o superendividamento e o calote não passaram, comparativamente, de um exame de Covid com resultado falso positivo. Em um ambiente de crédito em baixa e cautela em alta, as micro, pequenas e médias empresas brasileiras conseguiram derrubar quase pela metade o índice de inadimplência (que corresponde a atrasos acima de 90 dias) no período mais agudo de fechamento do comércio e isolamento social. Em abril, o percentual era de 4,11%. Em setembro, recuou para 2,24%, segundo os Banco Central (BC).

No mesmo caminho, pessoas físicas também reduziram o número de contas em atraso por mais de três meses. Pelos cálculos da Serasa Experian, entre abril e julho (último dado disponível), o contingente de inadimplentes caiu de 65 milhões de consumidores para 63,5 milhões. “Na pessoa física, o adiamento ajudou muito a evitar endividamento, além do fato de muitos trabalhadores suspenderem compras e quitarem débitos, o que criou uma poupança precaucionária e aumentou a liquidez ”, disse Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi). “Já as empresas reduziram estoques, diminuíram a necessidade de capital de giro e pagaram dívidas.”

No caso das empresas, boa parte desse recuo se explica pela proatividade dos empresários em levantar a bandeira do “devo, não nego, pago quando a pandemia passar”. Segundo Rodrigo Cabernite, CEO da Gira+, plataforma de concessão de crédito especializada em MPEs, a repactuação de contratos e a suspensão temporária de parcelas de empréstimos ajudaram os empreendedores a não entrar na lista dos maus pagadores. “As micro e pequenas aprenderam a se virar durante a pandemia, e os empresários ganharam maturidade nos últimos meses”, afirmou o executivo. Para ele, as medidas de estímulos para a economia, entre eles o auxílio emergencial e o Pronampe, que injetou recursos nas micro e pequenas empresas, “foram determinantes”.

Apesar dos resultados mais positivos do que o esperado, o horizonte para a inadimplência em 2021 ainda inspira cautela. Uma provável segunda onda da pandemia, aliada com o fim dos estímulos do governo, criam um cenário de medo e incerteza. Para o presidente da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e dos Empreendedores Individuais (Conampe), Ercílio Santinoni, o aumento da inadimplência é dado como certo. “Quando chegar o início do ano as empresas terão que aumentar o faturamento, ou não vão conseguir pagar as parcelas. É natural que tenhamos um aumento da inadimplência.”

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