Economia

Indústria busca retomar seu protagonismo no Brasil

Necessitamos de uma política industrial que olhe para o futuro, baseada no aumento da produtividade e na transformação das estruturas produtivas”. A afirmação é do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, feita durante a abertura do 12º Encontro Nacional da Indústria (ENAI), realizado de forma on-line nos dias 17 e 18 de novembro. Para Andrade, a indústria nacional mostrou, durante a pandemia, sua resiliência e capacidade de adaptação. Mas agora há um desafio maior que é aumentar sua produtividade e competitividade no cenário mundial. É preciso também se inserir nos novos modelos de produção e de negócios que surgem com o rápido processo de digitalização da sociedade.

A indústria, hoje, representa 21% do PIB. É responsável por mais de 60% dos gastos em pesquisa e inovação. Emprega mais de 10 milhões de trabalhadores com carteira assinada e responde por 42% dos impostos estaduais e 32% dos federais. Apesar de sua grandeza, vem perdendo espaço na economia e sofre com a concorrência externa. Situação que o presidente da CNI não aceita. “Não devemos tolerar a crescente perda de espaço de nossa indústria nos cenários internacional e doméstico”, disse Andrade.

O tema do encontro foi um a provocação: Como tornar a indústria brasileira mais competitiva para impulsionar o crescimento do País? Organizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Social da Indústria (Sesi), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o evento teve as participações de 12 palestrantes e 26 debatedores. Eles falaram sobre questões emergenciais e estratégias de longo prazo. Os painéis e as palestras trataram, por exemplo, da urgência da reforma tributária, da nova estratégia de política industrial, da inserção internacional das empresas, de oportunidades da economia circular, da sustentabilidade na indústria, da busca da eficiência do Estado e dos desafios para a indústria 4.0.

BASE PRODUTIVA O próprio formato do encontro neste ano, que por causa da pandemia foi totalmente virtual, dá a dimensão dos complexos desafios a serem enfrentados. Andrade ressaltou que essa adaptação é também uma demonstração da “capacidade de superar as adversidades” e comentou sobre os aprendizados advindos da crise. “A pandemia deixou claro que todos os países devem aumentar sua base produtiva. É preciso reindustrializar o Brasil e criar condições para uma indústria competitiva e inovadora”, afirmou.

Entenda-se como criação de condições a solução de obstáculos que prejudicam o setor. O principal deles é o sistema tributário cuja reforma pede urgência e, em paralelo, olhar para questões como as adaptações necessárias para evitar a mudança climática e investimentos públicos e privados em ciência, tecnologia e inovação. “São a chave para desenvolver novos modelos de produção e negócios. Cabe a nós transformar desafios em oportunidades”, disse.

O gerente da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional, Cesar Rissete, que também participou da cerimônia de abertura do Enai, seguiu a mesma linha de pensamento. Ele destacou os impactos da pandemia e as oportunidades que surgiram durante a crise sanitária. “Temos o desafio de aumentar a produtividade e a competitividade, por meio de parcerias, inclusão digital, internacionalização e inclusão das empresas de pequeno porte nas cadeias de valor”, disse.

“O Brasil não pode perder a revolução da sustentabilidade global. É preciso fazer escolhas certas, sem margem para decisões equivocadas” Gerd Leonhard, CEO da Futures Agency.

CLIMA Convidado para proferir a palestra magna do Enai, intitulada “Mudança exponencial – A transformação total dos negócios e da sociedade”, o escritor e CEO da Futures Agency, Gerd Leonhard, avalia que depois da Covid, empresas e governos voltarão seus olhos para as mudanças climáticas. E a tecnologia será essencial para enfrentar o desafio do aquecimento global. “Será a próxima onda. O Brasil não pode perder a revolução da sustentabilidade global”, afirmou Leonhard.

Para ele, a sustentabilidade será tanto uma necessidade quanto um negócio lucrativo. Transações feitas nas Bolsas de Valores em torno de empresas ambientalmente responsáveis mostram isso. Otimista, ele acredita que nos próximos dez anos o Brasil pode mudar mais do que nos cem anteriores. “Mas vocês estão na bifurcação da estrada: é preciso fazer escolhas certas, sem margem para decisões equivocadas”. O palestrante aproveitou para dar um conselho ao empresariado nacional no tocante ao desenvolvimento tecnológico. “Não se limitem a usar a tecnologia dos outros. Desenvolvam suas próprias tecnologias.”