Economia

BC vê open banking como vetor para redução de spread

A implantação do "open banking" no Brasil tem potencial para levar a uma redução grande dos spreads bancários, afirmou ontem o diretor de organização do sistema financeiro e de resolução do Banco Central (BC), João Manoel Pinho de Mello.

"O open banking, com nivelamento de informações entre concorrentes, aumenta a competição. Isso tornará o mercado mais competitivo, e confiamos numa queda de spread grande decorrente disso", afirmou Mello. "Aí, naturalmente a preocupação com a concentração diminui."

As declarações do diretor do BC foram feitas durante evento sobre competitividade realizado pela credenciadora Stone. Mello respondeu a uma pergunta vinda da plateia sobre a concentração bancária no país. Para ele, a falta de competição é um problema maior que a concentração em si.

O Banco Central planeja colocar em consulta pública ainda neste ano uma proposta de regulamento para o open banking. O cronograma prevê que o sistema comece a ser implantado em 2020. A intenção do regulador é que as instituições financeiras sejam obrigadas a abrir informações para concorrentes, que poderão acessar e até mesmo movimentar contas bancárias e de pagamentos se tiverem autorização do cliente para isso.

Segundo Mello, o open banking será delineado com base em dois componentes: as normas que serão estabelecidas pelo BC e uma autorregulação do mercado em algumas questões. "Principalmente nos temas mais técnicos e tecnológicos, a indústria tem vantagem em desenvolver esses protocolos", afirmou, ponderando que o regulador poderá intervir se a resposta dos agentes do setor não vier a contento.

O open banking e o desenvolvimento de um sistema de pagamentos instantâneos são, de acordo com Mello, dois projetos vistos pelo Banco Central como "cruciais para a competição".

Para Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, o open banking tem potencial para aumentar a competição no setor financeiro porque reduz substancialmente as barreiras de entrada no mercado. No entanto, ressaltou a economista, é preciso que o modelo de negócios seja atrativo para os participantes. A consultoria assessorou a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em discussões sobre o sistema.

Ana Carla citou uma discussão que começa a avançar no Reino Unido - primeiro mercado a adotar o open banking - sobre a cobrança para o acesso às informações. Lá, os bancos são obrigados a prover APIs (a interface tecnológica que permite a um concorrente usar dados de outro) de forma gratuita com requisitos mínimos de dados. Quem quiser informações mais aprofundadas terá de pagar por elas. "Estão se criando APIs premium, que garantem a monetização do modelo", afirmou.

Outro ponto importante a ser definido na regulamentação é o passo a passo que os clientes terão de seguir para autorizar a abertura de suas informações. "Se fizer uma jornada de consentimento extremamente difícil, você mata o projeto, porque a intenção é que a experiência do consumidor seja fácil, simples e agradável", afirmou o diretor do Banco Central. "Por outro lado, não pode ser muito leniente, sob risco de deixar o sistema exposto e matar a confiança."

Pioneiro e mais defensivo, o modelo britânico de open banking é o preferido dos grandes bancos. No entanto, fontes que acompanham as discussões afirmam que o BC tem procurado montar um desenho próprio e tem buscado as melhores experiências dos mercados que já adotam o sistema, especialmente Reino Unido, União Europeia, Austrália e Cingapura.

https://www.sinfacsp.com.br/noticia/bc-ve-open-banking-como-vetor-para-reducao-de-spread-valor-economico