Economia

Análise: Bancos mostram armas em novo round da guerra das maquininhas

A nova política de preços da Rede, do Itaú Unibanco, é mais um sinal de que os bancos e suas credenciadoras de cartões resolveram partir para a briga com as empresas novatas, especialmente PagSeguro e Stone, para quem perderam muita participação de mercado nos últimos anos.

Só que agora começam a lançar mão de sua maior fortaleza: o balanço robusto das instituições financeiras que têm por trás.

A Rede anunciou ontem à noite que vai zerar a taxa cobrada dos lojistas para a antecipação dos recebíveis das vendas com cartões de crédito à vista. O pagamento será feito em dois das, e não nos 30 habituais. A oferta vale para empresas com faturamento anual de até R$ 30 milhões e que recebam o dinheiro por meio de sua conta no Itaú.

A Getnet, do Santander, também reduziu as taxas da antecipação de recebíveis há poucos dias. A tendência é que a Cielo, controlada pelo Banco do Brasil e Bradesco, siga caminho parecido. Mas, sem anunciar nada até agora, a credenciadora vê suas ações caírem 7,64%, para R$ 8,22, nesta quinta-feira.

Os papéis da Stone e da PagSeguro também despencam, já que ao acirrar a competição na antecipação de recebíveis a Rede mira numa fonte de receitas muito importante para essas empresas. Além disso, o alvo da Rede com o anúncio são os empreendedores e as pequenas empresas, justamente os segmentos em que as novatas são mais fortes.

O anúncio da Rede traz um recado importante porque exemplifica a disposição dos bancos de usar sua força para voltar ao ataque no mercado de adquirência. A credenciadora e o Itaú vão usar o famoso “cross sell” para atrair os pequenos lojistas: ao travar o domicílio no Itaú, este poderá oferecer novos produtos a essa clientela, antes pouco abordada pelos bancos.

A Rede deu o primeiro passo concreto, mas a Cielo também deve reagir. O presidente da credenciadora, Paulo Caffarelli, afirmou em entrevista recente ao Valor que vai “para cima” dos concorrentes no segmento de empreendedores. A Cielo reduziu sua projeção de lucro para este ano, alegando que vai priorizar a participação de mercado e não a rentabilidade. “Este é um jogo para brutos e vai ganhar quem for bruto”, disse o executivo.

Sinais dessa disposição para voltar ao ataque já haviam começado a aparecer, mas até agora as credenciadoras de bancos vinham lutando com as mesmas armas dos concorrentes. Tal como a PagSeguro, começaram a vender maquininhas, coisa que não faziam antes. E, assim como a Stone, mudaram a tática de atendimento aos clientes.

No balanço do quarto trimestre, o Itaú mostrou um aumento de despesas relacionado à contratação de mais funcionários para ampliar a força comercial da Rede. A Cielo também informou ter contratado mil “hunters”, como batizou os vendedores que estão nas ruas.

No ano passado, as credenciadoras também passaram a distribuir maquininhas por meio das agências bancárias das instituições a que são ligadas.

O novo passo da Rede é ruim para os concorrentes, especialmente para os que não têm banco por trás, disseram analistas da XP Investimentos em relatório a clientes.

Os rivais se incomodaram com o anúncio da Rede. Fontes próximas à Stone veem sinais de prática de preços predatórios na oferta.

Fonte: Talita Moreira, do Valor

http://www.fintechspress.com/18-destaques/1995-analise-bancos-mostram-armas-em-novo-round-da-guerra-das-maquininhas