Economia

Bradesco reformula seu banco de atacado

À espera de um maior volume de negócios deste ano em diante, o Bradesco redesenhou seu banco de atacado. A nova estrutura aprofunda a segmentação dos clientes, prevê a abertura de mais espaços de atendimento especializado e traz maior integração com outros serviços da casa.

Com as mudanças, a instituição pretende ampliar a oferta e melhorar a rentabilidade das operações com médias e grandes empresas. "O objetivo é gerir melhor o risco de crédito e melhorar a qualidade do atendimento", afirma o vice-presidente Marcelo Noronha, responsável pela área de atacado.

As companhias foram divididas em três segmentos. Um deles, batizado de "corporate one", é voltado a empresas com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 500 milhões por ano. O "corporate" é voltado a clientes com receita de R$ 500 milhões a R$ 4 bilhões, e o "large corporate" atende quem fatura acima disso. As áreas estão a cargo dos diretores Antônio Daissuke, Fernando Freiberger e Carlos Pedras, respectivamente, que respondem ao diretor-executivo Bruno Boetger.

Até então, o atendimento era feito por meio de duas unidades. O Bradesco Empresas cuidava dos clientes com receita de R$ 30 milhões a R$ 250 milhões, e o corporate abrangia todas as companhias daí para cima.

A divisão por tamanho não é o único recorte. As novas verticais se cruzam com a cobertura setorial e geográfica já conduzida pela instituição. Essa frente também será reforçada. O Bradesco tem hoje cerca de cem escritórios especializados no atendimento a empresas e prevê abrir mais 70 espaços voltados às companhias "corporate one" e outros cem para o segmento "corporate". Os espaços podem ficar dentro de agências de varejo ou ser plataformas independentes.

A partir dessa estrutura, o Bradesco planeja reforçar a oferta de produtos aos clientes, o chamado "cross-sell". A nova configuração concentrou no atacado todos os negócios relacionados a empresas e investidores institucionais - crédito, gestão de caixa, operações de mercado de capitais, câmbio, private banking, gestão de recursos e escritórios no exterior. "A ideia é ter um relacionamento completo. As operações têm de remunerar o capital", diz Noronha.

O desenho leva em conta a atuação "centrada no cliente" que o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr., vem tentando adotar desde que assumiu o cargo, há um ano. Na área de atacado, uma das constatações é que a percepção de qualidade dos clientes do banco é inferior à dos concorrentes.

O objetivo é que, com as mudanças, o Bradesco capture uma fatia relevante dos negócios que devem surgir num ambiente econômico melhor. O executivo conta com a aprovação, no segundo semestre, de uma "boa" reforma da Previdência, que traga economia de ao menos R$ 700 bilhões em dez anos. Caso isso aconteça, a expectativa é que investidores estrangeiros venham em peso para o Brasil, e empresários desengavetem projetos. "A reforma é a bala de prata que dá tração aos investimentos", afirma.

Outro fator que deve aquecer o mercado são as privatizações e as vendas de ativos de estatais. Nas contas do Bradesco, há potencial para a venda de participações que somam R$ 496 bilhões - abaixo dos R$ 750 bilhões estimados pelo governo, mas ainda assim um número relevante. Desse total, o banco calcula que R$ 221 bilhões podem ser desinvestidos em 2019 e 2020 especialmente em participações nos setores de óleo e gás, financeiro e elétrico.

"Há uma grande mobilização do setor privado. As assets [gestoras de recursos] estão procurando ativos, as companhias estão olhando oportunidades, os bancos estão preparados para crescer", afirma Noronha.

O Bradesco espera, em 2019, um crescimento de cerca de 10% na carteira de crédito de empresas com faturamento até R$ 4 bilhões - desempenho bem mais forte do que se viu nos últimos anos. As operações com as maiores companhias, por sua vez, devem ficar estáveis. Ainda há, segundo o executivo, um processo de renovação dos empréstimos a esse segmento, além da migração de parte dessas transações para o mercado de capitais.

Henrique Lima, diretor responsável pela área de "investment banking" do Bradesco BBI, prevê que o volume captado em ofertas de ações pode alcançar R$ 55 bilhões neste ano. As operações no mercado local de renda fixa podem crescer entre 10% e 15% e as emissões de bônus têm potencial para dobrar, somando cerca de US$ 30 bilhões, calcula o executivo. O movimento de fusões e aquisições, turbinado pelas vendas de ativos estatais, também deve aquecer os financiamentos a esse tipo de negócio.

De acordo com Noronha, o banco pretende atuar tanto no financiamento quanto na assessoria a operações de mercado de capitais e processos de fusão.

A reformulação do atacado faz parte de uma reestruturação anunciada pelo Bradesco em janeiro. O banco passou a trabalhar com três vice-presidências de negócios - atacado, varejo e alta renda - e uma que concentra as áreas de apoio. As mudanças são parte do plano de Lazari para tornar as operações mais ágeis e rentáveis.

Segundo maior banco privado do país, o Bradesco foi ultrapassado pelo terceiro colocado, o Santander, em termos de rentabilidade. O banco da Cidade de Deus gerou retorno sobre o patrimônio líquido de 19% no ano passado, ante 19,9% do concorrente.

Fonte: Talita Moreira e Flávia Furlan, do Valor

http://www.fintechspress.com/11-varejo/1723-bradesco-reformula-seu-banco-de-atacado