Economia

Procura de pequena e média empresa por crédito subirá até o final do ano


 

O maior direcionamento político a partir da semana que vem impulsionará a demanda de crédito das micro e pequenas empresas. Apesar dos juros e calotes em queda, a crescente exigência de garantias pelas instituições financeiras será um obstáculo.

Segundo o presidente da DesenvolveSP, Álvaro Sedlacek, o movimento das pequenas e médias empresas (PMEs) começa a ser positivo porque essas companhias iniciaram o redirecionamento da “procura de capital de giro para uma busca mais voltada à formação bruta de capital fixo [aportes em máquinas e equipamentos]”.

Só no terceiro trimestre de 2018, por exemplo, a DesenvolveSP desembolsou R$ 128,8 milhões para as PMEs, um avanço de 26% em relação a igual período de 2017 e uma alta de 30% frente aos meses de abril a junho deste ano.

Para a professora de finanças do Insper Berenice Righi Damke, mesmo com o maior “entusiasmo”, a confiança do empresário “não está plena”.

“Creio que só a partir do momento em que fecharmos as eleições e tivermos a certeza não apenas de quem assumirá o cargo de presidente, mas começarmos a ver as práticas da equipe econômica, é que os diversos setores começarão a reagir”, opina a especialista.

Dentre os setores, as expectativas dos entrevistados giram, principalmente, em torno de comércio e serviços – impulsionados, por sua vez, pela sazonalidade de fim de ano – e a indústria, segmento que, ainda segundo o levantamento da DesenvolveSP foi responsável por 39,4% do total de empréstimos realizados.

“Investimentos de longo prazo acabam tendo essa relação maior com a indústria, por exemplo. Depois, os demais devem seguir”, afirma Sedlacek, presidente da instituição.

De acordo com a Desenvolve, os empréstimos cedidos à indústria no terceiro trimestre totalizaram R$ 50,8 milhões, alta de 25% em relação a igual intervalo de 2017 (R$ 40,7 milhões). Em seguida veio o setor de serviços que, apesar do desembolso de R$ 29,5 milhões, representou queda na mesma relação (R$ 37,4 milhões).

Já o comércio registrou aumento de 39% em igual comparação, de R$ 11,7 milhões para R$ 16,3 milhões. O restante (R$ 32,2 milhões) foi aplicado pelo setor público em obras de infraestrutura.

“O avanço não demorará a ser visto. Resolvida a situação política, o problema em relação às incertezas será superado e o mercado de crédito ganha força. Nós teremos um crescimento com certeza, mas o tamanho e a velocidade ainda dependerão da confiança que o novo governo vai passar”, acrescenta Sedlacek.

Análise de risco

Já do ponto de vista das instituições financeiras, as exigências na análise de riscos poderão ser um obstáculo para um avanço mais significativo nos empréstimos às PMEs.

Os últimos dados do BC apontam que enquanto os juros médios voltados para pessoas jurídicas recuaram 2,8 pontos percentuais (p.p.) em agosto deste ano frente igual mês de 2017 (de 18,7% ao ano para 15,9% ao ano), os calotes reduziram 0,9 p.p., de 3,4% para 2,5% na mesma relação.

Mesmo assim, porém, o saldo de crédito corporativo disponível foi de R$ 1,440 trilhão para R$ 1,434 trilhão. A maior redução desse estoque foi observada nos recursos voltados às companhias de pequeno e médio portes, que registraram queda de 5,6% (de R$ 537,1 bilhões para R$ 502 bilhões).

“A questão central, nesse quesito, é risco de crédito”, explica Damke, do Insper.

“Quando separamos as PMEs, vemos alguma desaceleração ou crescimento menos acentuado, principalmente porque na análise de risco, as empresas ou mostram que não conseguiram se recuperar totalmente ou têm dificuldade em aceitar os juros condizentes”, completa a professora.

Entre os cinco maiores bancos do País, apenas os privados (Bradesco, Itaú e Santander) registraram alta nas carteiras das PMEs no segundo trimestre, somando R$ 195,9 bilhões em empréstimos – aumento de 4,2% ante igual período de 2017 (R$ 187,8 bilhões).

Os públicos, porém, mostraram uma redução de 24,8% na mesma relação (de R$ 99,4 bilhões para 74,7 bilhões).

“O apetite dificilmente vem por empresas que têm alto risco. Mas na medida em que a economia gire, a situação deve melhorar”, conclui Damke.

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