Economia

Empresas brasileiras dependerão mais de mercados de capitais que de bancos em 2019, diz estudo

Por Carolina Mandl

SÃO PAULO, 27 Ago (Reuters) – Companhias brasileiras vão precisar buscar apoio em mercados de capitais em vez de bancos para parte substancial do financiamento que vão precisar, por causa do impacto das regras mais exigentes de capital que vai pressionar as instituições financeiras a reduzir seus balanços já a partir do próximo ano, afirma um estudo.

Os bancos brasileiros vão precisar estar adaptados em janeiro de 2019 às novas exigências de capital estabelecidas pelo regime de Basileia III, concebidas após a crise financeira de 2008 com o objetivo de fazer os bancos do mundo manterem mais recursos em seus balanços para enfrentar situações de estresse.

A pesquisa, realizada pela unidade de gestão de recursos do Itaú Unibanco, descobriu que os financiamentos corporativos por meio de emissão de bônus e outros títulos de dívida vão precisar crescer entre 2 e 4,8 vezes em relação aos níveis atuais até 2022 para atenderem às necessidades de capital das companhias em um momento em que os bancos estarão pressionados a reduzir os empréstimos.

Como resultado, o estoque de dívida corporativa do Brasil deverá subir para algo entre 343 bilhões e 799 bilhões de reais até 2022 ante 165 bilhões este ano, segundo o levantamento.

"Sob Basileia III, os bancos vão preferir empréstimos que exigem menos gasto de capital, como créditos imobiliário e consignado, o que levará as companhias a buscar financiamento mais nos mercados nos mercados de capitais", disse Gerson Konishi, autor do estudo no Itaú Asset Management.

Além de exigir que os bancos ampliem seus níveis de capital principal de 4,5 para 7 por cento, o Banco Central está obrigando as instituições financeiras do país a reservarem mais recursos para empréstimos corporativos. Um empréstimo para uma grande empresa é quase 2,5 vezes mais caro para os bancos em termos de capital do que um financiamento imobiliário, por exemplo, segundo as regras do Banco Central.

A situação vai desafiar as companhias brasileiras na obtenção de financiamento. Os mercados internacionais de bônus frequentemente são mais caros para companhias brasileiras, que geralmente precisam fazer hedge para dívidas em moeda estrangeira.

Se as empresas não conseguirem recursos por meio dos mercados de capitais, a economia pode desacelerar, afirma o estudo o Itaú. As regras de Basileia III também devem provavelmente elevar os juros dos financiamentos, se a demanda exceder a oferta, segundo o levantamento.

Colocando mais dificuldade está a postura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de reduzir seus financiamentos em um momento em que tem que devolver bilhões de reais emprestados pelo Tesouro.

POUPANDO CAPITAL

Os bancos brasileiros, incluindo o estatal Banco do Brasil, já começaram a reduzir a exposição a crédito corporativo, optando pelos financiamentos de varejo. A carteira de crédito corporativo do BB encolheu 3 por cento ao longo do último ano, para 133,8 bilhões de reais.

Mas em um sinal de alívio, fundos de investimento ampliaram suas participações em bônus denominados em reais, disse o diretor da Anbima José Eduardo Laloni.

Os títulos corporativos detidos por fundos de investimento subiram 18 por cento, para 137,5 bilhões de reais. Isso ainda é uma fração dos quase 4 trilhões de reais em ativos sob gestão dos fundos domésticos, a maior parte em títulos do governo.

Laloni afirmou que o crescimento dos mercados de capitais vai depender da capacidade do Brasil de manter os juros da economia e a inflação patamares baixos.

((Edição Redação São Paulo, 55 11 56447753))
REUTERS AAJ

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