Economia

Queda da taxa de juro demoraria cinco anos

A redução efetiva dos juros no rotativo, caso implementadas as medidas sugeridas pela CPI dos Cartões, na semana passada, demorariam mais de cinco anos para acontecer. A expectativa é que o Banco Central centralize dados de crédito para agilizar esse processo.

A proposta da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões, de uma combinação de tarifa fixa e juros para clientes que usam o rotativo e cheque especial, na teoria, viria para compensar os custos da operação.

Atualmente, como a cobrança dos juros é feita proporcionalmente ao valor emprestado, se a conta ficar negativa por pouco tempo e em baixo montante, o valor monetário a ser pago será também baixo, mesmo se a taxa de juros for alta.

De acordo com o professor da Saint Paul Escola de Negócios e participante da CPI, Maurício Godoi, ainda são necessários “estudos mais aprofundados e uma atuação junto às instituições financeiras” por parte do BC para uma redução efetiva.

“A situação está carente de um estudo próprio sobre o impacto nas instituições financeiras e até mesmo de uma regulação do judiciário para que haja uma redução da inadimplência”, comenta.

Para ele, o nível alto de calotes no cartão de crédito – de 8,7% para pessoas jurídicas e 6,1% para consumidores –, por exemplo, ainda impossibilita movimentos maiores na redução de juros.

“O pontapé foi dado, mas a redução de juros não está em nenhum horizonte de curto nem de médio prazo”, afirma.

Além disso, mesmo que as medidas do BC para redução de juros já tenham trazido efeitos, as taxas continuam altas.

Os juros do cartão de crédito rotativo da modalidade “não regular” para pessoa física ficaram em 346,1% ao ano (13,3% ao mês) em maio, uma redução de 111,1 pontos percentuais ante mesmo mês de 2017 (457,2% a.a. ou 15,3% a.m.).

Às empresas, a redução da taxa total na linha foi de 13,5 p.p., de 306,8% a.a. (12,4% a.m.) para 293,3% a.a. (12% a.m.).

Conforme divulgado no relatório final da comissão na semana passada, uma simulação feita pelo BC resulta que para cada aumento de R$ 10 em uma tarifa hipotética aplicada ao rotativo do cartão de crédito, a taxa de juros média se reduziria em 1,62 p.p. ao mês.

Para o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, porém, o foco deveria ser no uso das ferramentas de diminuição de risco – como birôs e até a efetivação do Cadastro Positivo, por exemplo.

“Não faz sentido um custo a mais e nada justifica os juros nesse patamar. Muitas informações já são compartilhadas, mas falta colocar esse uso em prática”, completa Oliveira.

Dados centralizados

Nesse sentido, Godoi lembra que um dos assuntos discutidos pela CPI foi a criação de uma “nova forma de controle via BC para pulverização do mercado de crédito dentro do sistema financeiro”.

“Seria uma centralização global de dados, com Cadastro Positivo, Negativo, número de cartões do consumidor, outras faturas em atraso, etc. Isso seria até mais viável e factível”, pondera o especialista.

“Precisamos de novos instrumentos de controle e que o BC realize estudos mais robustos das estruturas de funcionamento e de uma ação até do judiciário para tratar de garantias”, complementa Godoi.

Contactado pelo DCI, o BC afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “vem estudando e adotando medidas na área de cartões” e que considera que o relatório final da CPI “contribui para as discussões e possíveis aprimoramentos do mercado”, completando que “promoverá os estudos recomendados”.

http://www.sinfacsp.com.br/noticia/queda-da-taxa-de-juro-demoraria-cinco-anos-dci