Economia

Juro baixo pode provocar 'revolução no sistema financeiro' e levar a redução de taxas bancárias e de fundos, diz presidente do BC

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta segunda-feira (5) que a inflação surpreendeu recentemente, vindo abaixo do esperado, mas que a avaliação sobre se cabe ainda mais corte na taxa Selic seria feita apenas na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), neste mês.

"O que posso dizer é que as últimas taxas de inflação de fato vieram mais baixas do que esperávamos, então a inflação continua baixa, e isso de fato veio surpreendendo todo mundo, inclusive o próprio Banco Central", afirmou em entrevista à rádio CBN.

Segundo Ilan, a manutenção da taxa de juros baixa poderá trazer "quase que uma revolução no sistema financeiro" brasileiro.

"Eu acredito que, se o Brasil for conviver com taxas como as de hoje, 6,75%, vamos ter quase que uma revolução no sistema financeiro. Nós nunca convivemos com taxas tão baixas no Brasil. Sempre tivemos dois dígitos, 10%, 14%. Cai para 7,25%, depois volta", afirmou à CBN.

"Se a gente ficar alguns anos com taxas menores, tudo vai ser revisto, inclusive, as taxas bancárias e as taxas de fundos de administração. Tudo isso, ao longo do tempo, terá que ser revisto. O que nós podemos fazer é acelerar essa mudança", afirmou.

No início de fevereiro, o BC reduziu a taxa básica de juro em 0,25 ponto, para a mínima recorde de 6,75% ao ano, e sinalizou o fim do ciclo devido à recuperação mais consistente da atividade econômica no país.

A ata do encontro, no entanto, informou que os membros do Copom divergiram sobre qual comunicação deveria ser adotada para a próxima reunião. Enquanto alguns manifestaram preferência por manter "elevado grau de liberdade", outros defenderam sinalizar de modo mais claro possível o fim do ciclo de afrouxamento na Selic, com liberdade de ação mantida, mas em menor grau.

A conclusão de todos, no fim, foi por indicar o encerramento do ciclo "caso a conjuntura evolua conforme o cenário básico", mas mantendo espaço para queda "moderada" adicional nos juros caso haja alteração nesse quadro.

Assim, no mercado de juros futuros, as apostas de novo corte na Selic em março eram majoritárias sobre as voltadas para manutenção. Por outro lado, no levantamento Focus do BC, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, a mediana das projeções aponta para manutenção da Selic agora.

Contra duplo mandato do BC

Ilan, na entrevista mais cedo, foi claro a se posicionar contra o duplo mandato ao BC, defendendo que, ao controlar a inflação, o crescimento é ajudado também.

"O duplo mandato é o BC ter uma meta para inflação e uma meta para crescimento. Aqui tem um equívoco, porque meta de crescimento, meta de desemprego, é uma meta do governo todo", afirmou ele. "Não dá para o BC ter duas metas simultâneas, que podem confundir", afirmou, acrescentando que poderia haver judicialização em caso de duplo mandato.

Ilan disse ainda que não houve sondagem se poderia assumir o Ministério da Fazenda caso o titular da pasta, Henrique Meirelles, deixe o posto para se candidatar à Presidência. Segundo o presidente do BC, também não havia, no momento, projeto para taxar moedas virtuais.

Nova taxa dos EUA ao aço

Questionado sobre a sobretaxa ao aço importado pelos EUA, Goldfajn afirmou que seria uma medida negativa para a economia de maneira geral, afetando inclusive os próprios norte-americanos.

"Não há um cálculo específico, mas se sabe que é prejudicial não só ao Brasil, mas ao mundo todo. Uma guerra tarifária, protecionismo no mundo todo. Comércio no mundo diminuindo vai ter impacto em todo o mundo, isso afeta o Brasil no final das contas. Acho que é ruim inclusive para os Estados Unidos", afirmou Ilan em entrevista à rádio CBN.

"O que acontece é que vai ter preços mais caros, tudo vai ter uma tarifa a mais", acrescentou.

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