Economia

Após um ano, cadastro positivo de crédito ainda não é automático

Quase um ano atrás, o governo anunciou que os brasileiros que pagassem suas dívidas em dia entrariam automaticamente em um cadastro positivo. Com mais pessoas nesse ranking de bons pagadores, o crédito ficaria mais barato, mas, até agora, nada.

O seu Geraldo nunca atrasou uma conta, mas foi só emprestar o nome para o filho, que entrou para lista de inadimplentes. Seu Geraldo diz que as empresas deveriam ter um histórico da vida financeira para saber que ele sempre foi um bom pagador.

“Com seu histórico é como um currículo em uma empresa, você tem que ter bons antecedentes para provar que você realmente é bom”, disse Geraldo de Araújo.
Esse currículo já existe. É o Cadastro Positivo de Crédito, que tem as informações dos consumidores. Quem paga em dia, quem atrasa e quem não paga.

Hoje, para fazer parte do cadastro positivo, o consumidor precisa pedir para ser incluído. O governo tinha prometido que a adesão seria automática e, no fim de 2016, chegou até a anunciar que essa seria uma medida de estímulo ao crédito, já que aqueles que pagam as contas em dia poderiam ser beneficiados com juros menores e prazos melhores. Mas, até hoje, o cadastro automático não saiu do papel.

Em dezembro, o governo chegou a informar que o aperfeiçoamento do cadastro positivo seria feito por medida provisória, que entra em vigor assim que publicada. A MP nunca saiu.

Agora, o Banco Central informou que o governo optou por um projeto de lei que está sendo elaborado pelo senador Armando Monteiro, do PTB, em conjunto com o Banco Central e o Ministério da Fazenda. Esse projeto deve ser apresentado nos próximos dias na Comissão de Constituição e Justiça. Só depois de analisado na comissão, vai para plenário e depois para Câmara e projeto de lei não tem prazo para ser votado.

Enquanto isso, a adesão é baixa. O Boa Vista SCPC estima que 5% dos consumidores se cadastraram voluntariamente. E olha que uma pesquisa mostra que quase metade acredita que o objetivo do cadastro positivo é facilitar o crédito, mas a maior vantagem do cadastro só vai aparecer quando a adesão for maior.

“Na taxa final de um contrato de crédito, chamado custo efetivo total, uma parte daquela taxa é inadimplência. Eu cobro de quem paga e de quem não paga. Isso está errado. As pessoas tem que pagar o risco que elas representam para o banco. Se o risco é bom, a taxa tem que ser melhor”, afirmou o professor de Finanças do Insper Ricardo Rocha.

Se o cadastro positivo já fosse automático, seria bom para quem paga certinho e também para o seu Geraldo que, por causa de uma dívida, ficou completamente sem crédito.

“O credor também consegue enxergar o histórico todo de crédito dela. Então, ele vê que essa pessoa é uma boa pagadora, mas em um momento de crise ela deixou de pagar uma conta. Então, ao invés de negar um crédito, vai dar um crédito em outras condições, mas vai oferecer o crédito para o consumidor”, disse o superintendente de Serviços ao Consumidor do Boa Vista SCPC, Pablo Nemirovsky.

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/09/apos-um-ano-cadastro-positivo-de-credito-ainda-nao-e-automatico.html