Economia

Bancos miram lucro e limitam competitividade nos preços

São Paulo - Apesar da alta de 90% nas fintechs - de abril de 2016 a fevereiro deste ano - e da consolidação dos bancos digitais terem pressionado as grandes instituições a melhorarem a experiência dos clientes, foco em rentabilidade adia adoção de preços mais competitivos.

De acordo com dados da FintechLab, de abril do ano passado até fevereiro deste ano, o número de startups financeiras cresceu de 130 para 247 iniciativas, divididas em dez categorias diferentes.

Para especialistas, o movimento foi acompanhado pelos cinco maiores bancos do País (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander) e gerou uma "corrida digital para promover a melhor experiência" aos clientes.

Segundo o diretor de relacionamento com o cliente do Santander, Cassius Schymura, a mudança de comportamento dos consumidores exige uma oferta cada vez mais "personalizada" por parte das instituições financeiras.

"Para que a transformação digital aconteça, é preciso mudar a nossa forma de pensar. Os processos, hoje, são pensados para tornar o uso dos serviços bancários mais eficientes e velozes, e reconhecemos que a tecnologia é fundamental para isso", pondera o executivo.

De acordo com o CEO da Geru, Sandro Reiss, porém, a maior competitividade para redução de taxas e preços cobrados nas grandes instituições ainda deve demorar.

"No momento em que você tem empresas desafiando o modelo arcaico do sistema financeiro, é natural que os grandes bancos fiquem preocupados e acompanhem o movimento. Isso, porém, só vai até onde é lucrativo ou rentável para eles", explica Reiss, ressaltando que ainda é preciso que os bancos revejam seus modelos de negócios.

Da mesma forma, ainda segundo dados da FintechLab, já existem mais bancos digitais no País do que tradicionais, sendo que quase a totalidade oferece gratuidade de tarifas.

"Essa é a diferença. Muitos perguntam como um banco digital sobrevive sem cobrar tarifas e a visão é de que lucro é como respirar. Você não vive para respirar, mas respira para viver. É atingir operações lucrativas, mas sem endividar ninguém", acrescenta o diretor de produtos e design do Banco Neon, Daniel Benevides.

Para o gerente executivo de produtos do Banco Inter, a migração do sistema financeiro para um cenário mais digitalizado e focado em produtos e serviços simples e transparentes é um caminho sem volta.

"Sentimos que algumas instituições estão correndo atrás de abordagens semelhantes, exatamente, porque estão atentas aos players e sabem que a tendência digital é crescente no mercado", comenta.

"O mercado financeiro estava estagnado e marcado pela predominância de poucos grandes bancos, mas com a chegada das fintechs, e consequentemente mais concorrência, não há mais como se manter assim", avalia o CEO do Nubank, David Vélez.

"Coopetição"

Da outra ponta, os grandes bancos também ponderam que, ante as perspectivas de novas regulações para fintechs e com o andamento das contas e bancos digitais criados nos últimos dois anos pelas próprias instituições, ainda não há grandes preocupações.

"As inovações trazidas deverão levar a uma evolução da regulamentação do setor e esperamos que essa atualização seja capaz de garantir condições equivalentes de atuação para os agentes de mercado", diz o diretor setorial de tecnologia da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Além disso, os executivos destacam as iniciativas de open banking (a abertura de interfaces bancárias para uso de fintechs) como o próximo passo no sistema financeiro.

"A tendência crescente passa a ser a de disponibilizar serviços até nas mídias sociais, porque seremos desafiados a estar cada vez mais presentes no dia a dia do cliente", afirma o diretor de TI do Banco Original, Wanderley Baccalá.

"O momento é de 'coopetição', um mix de cooperação e competição onde, ao contrário do que muita gente pensa, vemos uma grande oportunidade para crescer", conclui o diretor de negócios digitais do BB, Marco Mastroeni.

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/bancos-miram-lucro-e--limitam-competitividade-nos-precos-id639886.html