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Fundos devem se preparar para novo relatório de auditoria independente

São Paulo - Os 15.422 fundos de investimentos registrados no Brasil devem se preparar para elaboração do "novo" relatório de auditoria independente, modelo já exigido das companhias abertas pelo regulador do mercado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Esse novo modelo de documento anual mais claro e objetivo estabelecido pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) e pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) com o item "Principais Assuntos da Auditoria" (PAAs) teve sua primeira safra de divulgações até 31 de março de 2017, com o Relatório Anual de 2016 por 546 companhias abertas no Brasil.

A prática, inicialmente voltada para empresas listadas em Bolsa de Valores, foi adotada de forma pioneira em países como Reino Unido, Holanda e Áustria, e avança por meio de convenções internacionais para outros mercados financeiros.

Para facilitar o entendimento dos investidores e dos públicos estratégicos sobre esse assunto, o Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (Codim) lançou ontem, o pronunciamento n° 23 sobre as medidas preventivas a serem adotadas por companhias abertas (empresas listadas) para a interação com os auditores independentes na elaboração desse "novo" documento. "Todos desejamos melhorar o mercado de capitais", disse o coordenador do Codim, Haroldo Reginaldo Levy Neto.

"As normas sofreram uma alteração relevante em 2016, antes o relatório da auditoria era muito padrão. Essa foi uma demanda do mercado. O papel do auditor foi muito contestado após os escândalos contábeis", disse o co-relator do pronunciamento n° 23 do Codim, Rogério Vieira de Andrade, representante do Conselho Federal de Contabilidade (CFC).

Para a outra co-relatora e representante da Associação Brasileira de Companhias Abertas (Abrasca), Ana Paula Tarossi Silva, com o novo modelo, o assunto "riscos" está mais visível para o investidor. "Auditor e empresa precisam trabalhar juntos", afirmou.

O representante do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Helmut Bossert, ponderou, entretanto, que o investidor pessoa física de ações pouco lê os documentos publicados pelo mercado. "Mas o analista de um fundo é obrigado a ler, se não perde seu emprego", diz.

Apenas para exemplificar a importância da leitura do item PAAs do relatório anual, vale citar que da primeira safra publicada com 546 documentos, 18% das empresas abertas listaram o tema "continuidade operacional" entre os Principais Assuntos tratados entre a auditoria e a empresa.

"O auditor independente deve com base em evidências obtidas, concluir se existe incerteza relevante sobre a capacidade de continuidade operacional da companhia", diz o pronunciamento do Codim.

Rogério Andrade, do CFC, observou no entanto, que o tema "continuidade operacional" não precisa estar entre os Principais Assuntos. "Vale depender da avaliação do auditor independente", explicou.

Fatores de risco

O presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Abracon), Idésio da Silva Coelho Júnior, lembrou que o relatório com os Principais Assuntos da Auditoria (PPAs) costuma ser publicado até 31 de março, eventualmente antes do prazo de 31 de maio para a entrega do Relatório de Referência, que aborda o item Fatores de Riscos. "É uma leitura importante, confrontar esses documentos", sugeriu.

Se por um lado há avanço na documentação de riscos, por outro, um levantamento feito pelo J.R. Amaral Advogados mostrou que 74 empresas abertas ou 67,2% das 110 listadas no Novo Mercado não possuem uma área específica de monitoramento de riscos (Compliance). "Nós nos surpreendemos com o resultado", diz o sócio, Romeu Amaral.

A análise foi feita com base nos relatórios de referência de 2016 entregues até 30 de abril de 2017. "Em algumas empresas, o RH questionado, nem sabia o que era Compliance."

Ernani Fagundes

http://www.dci.com.br/financas/fundos-devem-se-preparar-para-novo-relatorio-de-auditoria-independente-id639000.html