Economia

Cenário para as pequenas empresas está menos hostil para o 2° semestre

São Paulo - Assim como para as grandes, a crise política continuará sendo um entrave para uma retomada mais vigorosa das micro e pequenas empresas (MPEs), porém a expectativa é de que a atividade delas fique estável ou cresça pouco neste ano, em relação ao ano passado.

É o que avaliam especialistas ouvidos pelo DCI. O superintendente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Éverton Correia, explica ainda que o cenário para o setor se altera em cada grupo de MPEs.

Ele explica, por exemplo, que o pequeno empresário local, o exportador ou aquele que trabalha para a cadeia de exportação, tenderá a ter um desempenho mais positivo do que aqueles que fornecem para as grandes empresas voltadas ao mercado interno.

"O pequeno que vende ou que presta serviço para uma grande companhia está com um nível de incerteza mais elevado do que o restante, pois ele depende dos investimentos dela, os quais, por sua vez, estão paralisados pela trava política", comenta o superintendente da CNDL.

"As grandes empresas investem um volume alto de recursos, possuem um risco financeiro elevado e, portanto, dependem de variáveis políticas estáveis", acrescenta,

Se, por um lado a instabilidade institucional é um "risco para a expansão" de uma parte das pequenas, o processo de queda da inflação e da taxa básica de juros (Selic) apontam para um segundo semestre menos hostil, quando comparado ao mesmo período do ano passado.

Segundo Correia, este cenário pode beneficiar, sobretudo, os pequenos comerciantes locais ou redes familiares de varejo que dependem do consumo dos moradores dos bairros.

"Com a queda da inflação, os salários pararam de ser corroídos, o que significa que uma parte dos rendimentos das famílias foi liberado para o consumo ", afirma Correia.

O superintendente da CNDL pontua que os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) potencializam a perspectiva mais positiva para o pequeno comércio. Somente entre março e abril, por exemplo, esses saques injetaram uma soma de R$ 7,2 bilhões no varejo brasileiro, segundo divulgou a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), na última sexta-feira (23).

"Uma pesquisa da CNDL mostrou ainda que 38% das pessoas estão usando o FGTS inativo para pagarem as suas dívidas. Ou seja, elas estão saindo de uma situação de inadimplente para adimplente e isso é muito bom para o comércio, pois elas voltam a ter crédito na praça", ressalta Correia, informando que a projeção da CNDL é de que o comércio e os serviços tenham um crescimento entre 1% e 1,2% neste ano, impactando, portanto, os pequenos negócios dos dois segmentos.

Segundo o professor da Trevisan Escola de Negócios Daniel Machado, cerca de 53% das pequenas empresas são do setor de comércio, o que corrobora com a possibilidade um pequeno avanço do setor.

Exportação

Já as MPEs ligadas à exportação, tendem a se beneficiar do patamar do câmbio. "Antes [da crise política], o câmbio estava R$ 3,15 e, agora, gira em torno de R$ 3,28. Isso é positivo para as nossas vendas externas", afirma Correia da CNDL, reforçando que, no fechamento da conta, a expectativa é de que a atividade das MPEs tenham estabilidade ou um pequeno avanço no fechamento do ano.

Daniel Machado, da Trevisan, comenta ainda que algumas políticas do governo federal têm ajudado a pequena empresa a manter, ao menos, o nível de emprego. Ele cita o Empreender Mais Simples que está sendo realizado em parceria com o Sebrae e que disponibiliza R$ 8,2 bilhões em crédito para pequenas empresas.

"É um dinheiro para capital de giro, ou seja, voltado para as empresas não fecharem as suas portas e manterem empregos, já que o programa exige que as pequenas conservem as vagas de trabalho por um ano", especifica Machado.

"O crédito para investimento é o que gera novos empregos, mas, neste momento, já está sendo muito importante uma política que mantenha vagas", complementa ele.

Machado diz ainda que o alto nível de desemprego que atinge 14 milhões de pessoas no Brasil pode gerar novos microempreendedores (MEIs) nos próximos meses, porém sem a garantia de que eles sobrevivam ou de que obtenham um faturamento relevante.

"Estes novos emprendedores entrarão no mercado para disputar um consumo que já está bastante reduzido. Ou seja, pode ser que eles tenham um faturamento pequeno e pouca competitividade, já que estão empreendendo mais por necessidade. Nesta condição, costuma haver menos planejamento", completa ele.

Paula Salati

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