Economia

Baixa oferta bancária de crédito favorece busca por fonte alternativa

São Paulo - O crédito restrito somado à burocracia bancária tem direcionado grandes empresas para plataformas alternativas de empréstimo. De outro lado, bancos médios e financeiras aderem a tais sistemas para conseguir uma fatia maior de clientes e concessões.



De acordo com Dan Cohen, criador da plataforma F(x), a crise financeira doméstica travou o crédito no País e fez com que os recursos, antes existentes para as grandes companhias, não estivessem mais disponíveis nos grandes bancos, abrindo espaço para fontes alternativas de financiamento.

"Antes a situação estava difícil apenas para as pequenas empresas, mas, hoje, já alcança todos os negócios e, neste sentido, buscam as novas plataformas, que estão surgindo como uma forma menos criteriosa de crédito", avalia o executivo.

Com a empresa registrada no sistema, a F(x) se propõe, entre as instituições financeiras cadastradas, a encontrar aquela que esteja disposta a conceder determinado crédito ao perfil da companhia.

Segundo Cohen, apesar de a plataforma ter sido pensada, inicialmente, para médias/grandes negócios (com faturamento de R$ 6 milhões até R$ 100 milhões), "empresas que faturam de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão já estão aderindo a proposta."

Tanto em relação ao surgimento de fintechs com novas propostas ao sistema financeiro, como matrizes alternativas de crédito, os executivos ouvidos pelo DCI destacam que o movimento tem acontecido pelas chances maiores de empréstimos e pelo processo mais "desburocratizado".

"É uma forma interessante de ver que, de um lado, há empresas financeiras dispostas a conceder e, de outro, companhias que procuram recursos a taxas melhores, o que pode surgir com a concorrência que esses sistemas trazem", identifica Marcelo Monteiro, especialista de crédito e diretor de novos negócios da PH3A.

Segundo dados do Banco Central (BC), a concessão de crédito para pessoa jurídica chegou a R$ 110,8 bilhões em julho, valor 17,9% menor do que o observado em junho e 10,8% inferior ao registrado em igual mês do ano passado.

Para Monteiro, no entanto, nas transações de valores altos, as grandes ainda tendem a recorrer aos bancos. "Com crédito difícil ou não, esse ainda tende a ser o caminho", completa o diretor da PH3A.

Instituições financeiras

De acordo com Cohen, a grande maioria dos 80 concedentes já registrados na plataforma são bancos médios, financeiras e fundos de crédito, instituições que, com a restrição bancária, tentam ganhar o "espaço em branco" do mercado.

"Nesse sentido, a plataforma também tem ganhado visibilidade, uma vez que essas instituições ganham altas probabilidades de conseguir contrato de concessão de crédito e também não perde tempo com propostas fora do perfil para o qual ele está disposto", analisa.

Ele ainda destaca que, como demanda das próprias instituições, a plataforma ainda está lançando, hoje, um novo recurso, que passa a lista de documentos pendentes tanto aos cedentes quanto aos tomadores. "Isso vai garantir que o solicitante não desista no meio do caminho por não saber ou esquecer os documentos que falta enviar, fechando um maior número de contratos", completa o executivo.

Em relação ao cenário de crédito, contudo, os entrevistados afirmam que mesmo com momento ainda "indefinido", a tendência é de alta e maior aderência dessas plataformas por um número também crescente de companhias.

"O mercado ainda está esperando as decisões do governo e a aprovação do pacote da equipe econômica, o que ainda traz hesitação e cautela para esse cenário de crédito", explica Monteiro, da PH3A.

"Com a melhora da economia, os perfis de crédito vão mudando e os concedentes vão ficando cada vez menos exigentes, com melhores ofertas o que, no final das contas, também é positivo para as plataformas, como a nossa e que estão surgindo", diz Cohen.

Ele, no entanto, ressalta que o cenário ainda é difícil para os micro e pequenos empresários (MPEs). "O problema é que por mais que eles tenham garantia, não há informação para dar, com organização e contabilidade muito fracas. Enquanto esses MPEs não se ajudarem, o auxílio do crédito não chegará até eles", completa.

"Essa demanda cresce constantemente e, principalmente em ambiente de crédito escasso e greve dos bancos, é para esse tipo de facilidade e comodidade que os consumidores e empresas tendem a virar. É uma alternativa que tende a crescer porque é boa para os dois lados: dá mais opções aos clientes e abre o leque de crédito para as financeiras", conclui Ricardo Kalichsztein, CEO do Bom Pra Crédito.

Isabela Bolzani

http://www.dci.com.br/financas/baixa-oferta-bancaria-de-credito-favorece-busca-por-fonte-alternativa-id575808.html